São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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Roupa suja lavada com água fria

Por ANDREW MARTIN
e ELISABETH ROSENTHAL

Detergentes recém-formulados podem lavar a maioria das roupas perfeitamente em água fria, dizem os fabricantes, mas os consumidores teimosos se recusam a baixar a temperatura.
Eles seguem o velho conselho da mãe de que água quente lava melhor -desperdiçando energia e contribuindo para emissões de gases do efeito estufa.
Mesmo na Alemanha, onde os consumidores tendem a ser mais sintonizados com o meio ambiente do que nos EUA, os fabricantes descobriram que lavagem de roupa com água fria é algo difícil de vender.
"É muito mais eficaz concentrar-se na remoção de manchas e na brancura, no desempenho e no preço", diz o doutor Thomas Mueller-Kirschbaum, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da Henkel, empresa alemã que comercializa fórmulas para água fria com as marcas Persil e Purex.
É claro que alguns clientes há muito preferem a água fria para evitar que as roupas encolham ou que as cores desbotem, e outros lavam roupas escuras ou delicadas no ciclo frio.
Mas a ideia de reformular o sabão em pó para que todos os tipos de roupas possam ser lavados com água fria é relativamente nova, pelo menos na América do Norte e na Europa. (No Japão os consumidores habitualmente lavam suas roupas em água fria.)
Cerca de três quartos da energia consumida e das emissões de gases do efeito estufa da lavagem de roupa vêm do aquecimento da água -prática que, segundo cientistas, é muitas vezes desnecessária.
A Procter & Gamble leva o crédito pela inovação na América do Norte. Depois de perceber quanta energia era usada para aquecer água para lavar roupa, a empresa estabeleceu a meta de transformar 70% de todas as lavagens em água fria até 2020; a P&G estima que atualmente 38% das lavagens em todo o mundo são feitas em água fria.
Mas ao tentar criar a marca Tide Coldwater os cientistas da empresa se depararam com um problema: a água quente realmente ajuda a limpar melhor as roupas. Na verdade, a energia térmica é um dos três segredos da lavagem de roupas, juntamente com a energia mecânica e os produtos químicos.
Por isso os cientistas inventaram o Tide Coldwater, com diferentes enzimas que funcionam melhor em água fria. O produto foi lançado em 2005.
O Tide Coldwater, que é de longe o sabão em pó para água fria mais vendido hoje, responde por US$ 150 milhões em vendas nos EUA e US$ 60 milhões no Canadá, segundo a empresa. Em comparação, o Tide comum vende bem mais de US$ 1 bilhão por ano somente nos EUA.
Kiem Ho, diretor de cuidados com a roupa da Henkel, previu que os sabões para água fria continuarão sendo um nicho, a menos que o governo ofereça incentivos para usá-los ou que a indústria faça campanhas.
Na Alemanha, país cheio de turbinas eólicas e um Partido Verde que faz parte da corrente dominante na política, os fabricantes de sabão fizeram uma guerra de publicidade vários anos atrás, depois que criaram detergentes novos que funcionam igualmente bem em qualquer temperatura de água, incluindo a fria.
Mas os produtos não tiveram muita saída no mercado ou demanda do consumidor.
"Eu nunca experimentei", disse Ottilie Theis, 53, que fazia compras recentemente em Philippsburg, uma cidade no sudoeste da Alemanha. "Não acredito que a sujeira comum e as manchas possam ser lavadas com água fria."
A temperatura média de lavagem está diminuindo lentamente na Alemanha, em cerca de 1 grau por ano, segundo as pesquisas de mercado.
Diretores da P&G disseram ter sido incentivados por pesquisas que mostraram que alguns consumidores usavam água fria. Quando o Tide Coldwater foi lançado, apenas 30% das roupas eram lavadas em água fria; hoje são quase 40%.


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