São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise econômica faz Hollywood rever rumo

Em breve nos cinemas: magnatas-vilões e comédias idiotas

Por BROOKS BARNES

LOS ANGELES - Há poucos meses, a Lifetime Television começou a adaptar para o cinema o romance "Trading Up", de Candace Bushnell. Seus executivos imaginavam que uma história sobre os ricos e as suas limusines viria a calhar naquele momento.
O cenário era Nova York _ou, como descreve Bushnell, uma cidade onde "as ruas pareciam cintilar com o ouro em pó filtrado por um bilhão de negócios de uma economia próspera".
Hora de reescrever.
De repente, Hollywood inteira deixou de ver as Bolsas como um tema tão interessante. "Da noite para o dia, era como se o roteiro tivesse sido escrito dois anos antes", disse Arturo Interian, vice-presidente da Lifetime. Ele ainda está interessado no filme, mas com algumas revisões: menos discussões sobre ações, mais sobre investimentos seguros. E que tal acrescentar um executivo-chefe como vilão?
Executivos do setor de entretenimento começam a discutir qual é a melhor forma de abordar a crise econômica nos enredos do cinema e da TV, ou se é mesmo o caso de falar disso. Na última vez em que Wall Street levou um tombo tão feio _no estouro da bolha da tecnologia_, Hollywood fez filmes como "Ameaça Virtual", sobre um magnata literalmente capaz de matar pelo lucro.
Desta vez, alguns veículos da TV, como a Lifetime e o seriado "Law & Order", revêem sua programação e sua publicidade para não parecerem deslocados. Na 20th Century Fox, uma comédia sobre a classe trabalhadora, chamada "Two-Dollar Beer", ganhou uma repentina importância, enquanto sua divisão de filmes decidiu acelerar a produção da sequência de "Wall Street - Poder e Cobiça" (1987), em que Oliver Stone abordava o descontrole dos operadores do mercado.
Outros estúdios de Hollywood vão em sentido contrário, buscando roteiros que sejam puro escapismo - na forma de musicais ou comédias estúpidas. Além disso, histórias passadas em mundos fantásticos são "tudo o que alguns estúdios querem ouvir", disse o roteirista Paul Haggis, colaborador de "Quantum of Solace", próximo filme do personagem James Bond.
Hoje em dia, o cinema e a TV trabalham com muito mais antecedência do que há algumas décadas, o que limita sua capacidade de refletir imediatamente nas telas o atual caos econômico. Os estúdios cinematográficos costumam levar até três anos entre a concepção do projeto e seu lançamento, devido ao financiamento cada vez mais complicado para cobrir os custos de produção e marketing. Executivos lembram que os filmes sobre a invasão do Iraque, em 2003, só começaram a aparecer em 2007.
Uma típica série de TV é preparada com cerca de sete episódios de antecedência, o que não é muito diferente do que acontecia no passado. Mas a distribuição desses episódios mudou drasticamente. As redes exibem tantas reprises _uma estratégia para cortar custos_, que praticamente nada que for produzido agora terá chance de passar antes de fevereiro ou março. "Se colocamos referências à economia agora, isso pode estar totalmente desatualizado quando esses episódios forem ao ar", disse Mark Pedowitz, presidente do estúdio ABC, que produz o drama televisivo "Dirty Sexy Money".
O CW, que exibe "Gossip Girl", sobre estudantes de Manhattan, diz que o dinheiro de Wall Street continuará tão presente no enredo como sempre.
O empresário-vilão é um arquétipo dos filmes desde a época do cinema mudo. Já em 1917, a distribuidora Triangle lançou um título chamado "Greed" ("Cobiça"), parte de uma série sobre os sete pecados capitais, em que um operador da Bolsa causa a ruína de um jovem casal.
Mesmo assim, muitos veteranos de Hollywood desaconselham encher os roteiros de empresários malvados. "Especialmente nas épocas ruins, as pessoas não querem ver na tela aquilo que estão vivendo", disse a agente Nicole Clemens.
Muita gente do setor cinematográfico se rendeu ao escapismo em outubro, diante dos ótimos resultados de "Perdido pra Cachorro", filme da Disney sobre cães falantes, e "Quarantine", um filme de terror para adolescentes.
Os dois lançamentos tiveram desempenho bem superior ao de "Rede de Mentiras", drama sobre o terrorismo com os astros Leonardo DiCaprio e Russell Crowe. Os cães falantes estavam no fim do mês em segundo lugar nas bilheterias, atrás apenas de "Max Payne", filme de ação baseado em um videogame.
Clemens disse que há apenas uma exceção à regra de não exagerar nos vilões-empresários: em caso de vingança. "Quando as pessoas se sentem impotentes em suas próprias vidas, elas querem ver filmes nos quais os protagonistas recuperem o poder", disse ela. "Mas ainda não vejo uma nova tendência em que as grandes empresas sejam algum novo tipo de vilão. Elas já são um vilão há muito tempo."

Texto Anterior: Arte & Estilo: Motivos com sabor moderno de Brasil
Próximo Texto: Rapper Eminem volta à cena com um livro de memórias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.