São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

AMERICANAS

Negro? Branco? Asiático? Mais pessoas escolhem todos eles

Por SUSAN SAULNY
COLLEGE PARK, Maryland - A safra de estudantes que passa pela Universidade de Maryland e por outras faculdades americanas neste momento inclui o maior grupo de pessoas mestiças que já chegou à idade adulta nos Estados Unidos.
Elas são apenas a vanguarda: o país está no meio de uma mudança demográfica conduzida pela imigração e pelo casamento inter-racial.
Um em cada sete novos casamentos se dá entre pessoas de raças ou etnias diferentes, segundo dados de 2008 e 2009, e os americanos multiétnicos são um dos grupos que crescem mais rapidamente. Segundo dados do Censo divulgados em 24 de março, a população miscigenada aumentou quase 50% nos Estados Unidos desde 2000, atingindo 4,2 milhões. O número de pessoas de todas as idades que se identificaram como brancas e negras simultaneamente disparou 134% desde 2000, alcançando 1,8 milhão de pessoas.
Muitos jovens adultos de origem mestiça estão rejeitando as divisões de cor que definem os americanos há gerações. Pergunte a Michelle López-Mullins, uma estudante de 20 anos da Universidade de Maryland, como ela marca sua raça em formulários como o Censo, e ela dirá: "Depende do dia e das opções".
Eles também estão usando a força de seu número crescente para afirmar raízes que antes eram consideradas trágicas. "Eu acho importante reconhecer quem você é e tudo o que a faz ser como é", disse a estudante Laura Wood, 19. "Se alguém tenta me chamar de negra, eu digo 'Sim -e branca'."
Os otimistas dizem que a miscigenação é um passo em direção à transcendência racial. Para os pessimistas, isso ocorrerá às custas do número e da influência de outros grupos minoritários, especialmente os afro-americanos.
E alguns sociólogos dizem que reunir todas as pessoas mestiças no mesmo grupo despreza diferenças e circunstâncias entre alguém que é, digamos, negro e latino e alguém que é asiático e branco.
De acordo com essas linhas, é revelador que os índices de casamento inter-racial sejam menores entre negros e brancos, o que indica a persistente distância econômica e social entre eles.
O professor Rainier Spencer, autor de "Reproducing Race: The Paradox of Generation Mix" [reproduzindo a raça: o paradoxo da mistura entre gerações], diz acreditar que há "investimento emocional" na noção de multirracialismo como panaceia para as divisões. "A identidade mestiça não é uma transcendência da raça, é uma nova tribo", ele disse. "Uma nova balcanização da raça."
Mas, para muitos, não se trata disso. Eles estão afirmando sua liberdade de opção.
"Toda a sociedade tenta nos dividir e nos fazer escolher um lado", disse Wood. "Eu quero que a gente possa dar nossa opinião."
A maioria dos americanos costuma pensar em si mesmos em termos raciais singulares. Vejam a resposta do presidente Obama à questão racial no Censo de 2010: embora sua mãe fosse branca, Obama marcou apenas um quadrado -negro. Ele poderia ter marcado as duas raças.
Somente a partir do Censo de 2000, os americanos foram autorizados a marcar mais de uma raça. A opção multirracial veio depois de anos de queixas e lobbies, principalmente de parte de mulheres brancas com filhos mestiços.
Em 2000, 7 milhões de pessoas -cerca de 2,4% da população- relataram pertencer a mais de uma raça. Segundo estimativas do Departamento do Censo, a população mestiça cresceu aproximadamente 35% desde 2000.
As faces da América mestiça não estão apenas nos campus universitários. Estão na política, nos negócios e nos esportes. E os etnicamente ambíguos estão especialmente presentes nos filmes, em programas de televisão e na publicidade. Na web, existem sites de notícias, redes sociais e namoro concentrados no público mestiço e até produtos de consumo como xampu. Existem festivais de cinema e conferências multirraciais. Em Maryland, a Associação de Estudantes Multirraciais e Birraciais oferece apoio e ativismo.
Esse clube não teria existido há uma geração, quando a pergunta central de um jogo praticado no clube -"O que é você?"- seria uma provocação, mais que um quebra-gelo.
"É de certa forma uma recuperação, retomar as rédeas", disse López-Mullins, que é chinesa e peruana por um lado e branca e indígena americana pelo outro. "Nem sempre precisamos deixar isso nos diminuir", ela acrescentou, referindo-se à pergunta que os mestiços ouvem há gerações.
"O principal motivo de existirmos é dar às pessoas que sentem que não querem escolher um lado, que não querem se rotular com base nas interpretações dos outros de quem elas são, é lhes dar um lugar seguro", ela disse sobre o clube.


Texto Anterior: Ensaio - John Tierney: Livre arbítrio, a única opção

Próximo Texto: Maconha legal agora é contestada em Montana
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.