São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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LENTE

Impressões moldadas

O advogado que sai de casa ao trabalho todas as manhãs? Está fazendo de conta. O empresário que carrega sua pasta? Foi demitido. O operário da construção que anda com cinturão de ferramentas? Está desempregado.
Num mundo obcecado por rótulos e onde todos se apressam a julgar, manter as aparências e projetar uma certa imagem pode significar que a marca registrada mais importante de todas talvez seja a de nós mesmos.
Especialistas em marcas empregam slogans como "Identifique suas qualidades singulares e destaque a marca registrada Você!", escreveu Alina Tugend no "New York Times". "Precisamos criar nossa segurança no emprego, e reforçar nossa marca faz parte desse processo."
Estejam ou não fazendo de conta, aquele advogado, aquele empresário e aquele operário estão administrando a impressão que outras pessoas têm deles. Benedict Carey, do "Times", escreveu que "à medida que mantém bons hábitos e reflete orgulho pessoal, segundo psicólogos, essa representação pode ser uma estratégia social eficaz, especialmente em tempos de incerteza".
Psicólogos dizem que projetar orgulho pode dar força às pessoas em circunstâncias sociais difíceis. Em um experimento, Jessica L. Tracey, da Universidade da Columbia Britânica, descobriu que as pessoas tendem a associar uma expressão de orgulho com status alto, mesmo quando sabem que a pessoa em questão ocupa uma posição baixa na hierarquia social.
"Desde que você seja um ator decente e que as pessoas não saibam demais sobre sua situação real, todos os sistemas funcionam", disse a Carey a doutoranda em psicologia Lisa A. Williams, da Universidade Northeastern, em Boston. Ser um bom ator ou um ótimo artífice de uma imagem é importante numa sociedade que tende a julgar.
As primeiras impressões -mesmo que equivocadas- sobre as pessoas são cruciais para a maneira como funcionamos, dizem cientistas sociais, escreveu Pam Belluck, do "Times".
"Os estereótipos são um mecanismo necessário para interpretar as informações", disse o professor de psicologia David Amodio, da Universidade de Nova York.
Destacar-se na multidão é essencial para criar uma imagem, especialmente quem procura um emprego. Registrar-se em sites como LinkedIn, Facebook ou Twitter é uma forma de criar sua própria marca, escreveu Tugend. "Se você não criar sua marca, o Google o fará por você", comentou Sherry Beck Paprocki, coautora do livro "The Complete Idiot's Guide do Branding Yourself".
É importante controlar as informações que aparecem relacionadas a seu nome on-line. E não estar on-line, hoje em dia, equivale a não existir, escreveu Tugend. Você se vende ao exibir o que faz, escreve, come, ouve e lê.
Bem, talvez o que lê não venha tanto ao caso. Em função do leitor eletrônico Kindle, a prática de julgar as pessoas por seus livros pode desaparecer, escreveu Joanne Kaufman no "New York Times". Se as pessoas pararem de comprar livros impressos, será difícil formar opiniões a respeito delas com base em suas estantes de livros. Olhar os livros de uma pessoa é "a versão falsa-intelectual de bisbilhotar no armário de remédios de alguém", disse a Kaufman Ammon Shea, que escreveu sobre o ano que passou lendo o "Oxford English Dictionary".
As pessoas podem postar suas leituras na internet e deixar que todos saibam o que têm lido (ou o que fazem de conta que têm lido). Porque atualmente o que se procura não é mais manter o armário de remédios fechado, mas abri-lo e ajustar seu conteúdo cuidadosamente para que todos possam ver o que há dentro.

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