São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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Ponte construída na China 'habitará' águas americanas

Ponte feita na China vai ser usada na Califórnia

Por DAVID BARBOZA

XANGAI - Isso sim é que é terceirização. Em um enorme complexo manufatureiro aqui em Xangai, centenas de operários chineses estão concluindo trabalhos para a ponte "San Francisco-Oakland Bay".
Neste mês, os últimos quatro de mais de duas dúzias de gigantescos módulos de aço serão carregados em um navio enorme e transportados por 10,5 mil quilômetros até Oakland na Califórnia. Ali, serão montados para se encaixarem no segmento oriental da nova Bay Bridge ou Ponte da Baía.
O projeto é parte da ascensão contínua da China na cadeia global de valor econômico -desde brinquedos baratos até jatos de passageiros comerciais-, dentro do seu esforço para tornar-se a engenheira civil do mundo.
O trabalho de montagem na Califórnia e a pavimentação da superfície de concreto da ponte serão feitos por americanos. Mas a construção das plataformas da ponte e os materiais dos quais elas são feitas levam o selo "made in China".
"Eles produziram uma ponte bem impressionante para nós", disse há algumas semanas um gerente de programas do Departamento de Transportes da Califórnia, Tony Anziano. Graças à reputação de obras como o gigantesco terminal do aeroporto de Pequim e a monumental hidrelétrica das Três Gargantas, empresas chinesas já foram contratadas para construir minas de cobre no Congo, linhas de trem de alta velocidade no Brasil e complexos de apartamentos na Arábia Saudita.
Os sindicatos de metalúrgicos americanos criticaram o contrato da Bay Bridge, acusando o Estado da Califórnia de enviar bons empregos para fora do país e aceitando o que descrevem, em tom de menosprezo, como aço chinês de baixa qualidade.
Grupos representativos da indústria nos EUA e de outros países levantaram dúvidas quanto à segurança e à qualidade. É fato que a China já teve problemas de controle de qualidade, abrangendo desde leite contaminado até prédios escolares de construção falha.
Mas executivos e representantes públicos que firmaram os vários contratos com a China dizem que suas auditorias os convenceram da integridade da engenharia dos projetos. E observam que, com toda a força financeira do governo chinês por trás das empresas de infraestrutura do país, a escala monumental do trabalho e os preços licitados dificilmente conseguiriam ser superados pela indústria privada.
A nova Bay Bridge, prevista para ser aberta ao tráfego em 2013, vai substituir uma estrutura que nunca mais foi realmente a mesma desde o terremoto de 1989 na região da baía de San Francisco. Ao custo de US$ 7,2 bilhões, será uma das estruturas mais caras já erguidas. Mas autoridades da Califórnia estimam que vão economizar pelo menos US$ 400 milhões pelo fato de uma parte tão grande do trabalho estar sendo feito na China. O Departamento de Transportes da Califórnia decidiu reformar o segmento ocidental e substituir o segmento oriental, com 3,5 quilômetros de extensão.
No segmento oriental, a decisão foi construir uma ponte pênsil de desenho complexo. O segmento terá uma única torre, de 160 metros, ancorada ao leito rochoso do mar e apoiada por um único e imenso cabo de aço reforçado que percorre a ponte.
"Queríamos algo forte e seguro, mas que também fosse icônico", disse Bart Ney, porta-voz do departamento de transporte.
Uma joint venture formada por duas empresas americanas, a American Bridge e a Fluor Enterprises, ganhou o contrato principal da obra no início de 2006. A proposta dela especificava que o aço fabricado viria do exterior, para poupar dinheiro.
A China, maior produtora de aço do mundo, era a candidata principal, especialmente pelo fato de dominar a construção de pontes nos últimos dez anos.
Mas a escolha da estatal Shanghai Zhenhua Heavy Industries Company foi recebida com surpresa, pois a empresa produz guindastes para portos e não tinha experiência com pontes. Contudo, autoridades da Califórnia e executivos da American Bridge disseram que as vantagens da Zhenhua incluíam suas enormes instalações siderúrgicas, sua grande força de trabalho de baixo custo e suas finanças sólidas.
A Zhenhua pôs 3.000 empregados para trabalhar no projeto: cortadores de aço, soldadores, polidores e engenheiros.
Pan Zhongwang, polidor de 55 anos, é um operário típico da Zhenhua.
Ele chega às 7h00 e sai às 23h00; com frequência, trabalha sete dias por semana. Vive em um alojamento da companhia e ganha cerca de US$ 12 por dia. "Antigamente eram US$ 9 por dia, agora são US$ 12", disse ele. "Tudo vem ficando mais caro. Eles deveriam mesmo nos pagar mais."


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