São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Economia traz riscos para Assad

Por ANTHONY SHADID

BEIRUTE, Líbano - Hotéis da famosa cidade síria de Aleppo estão vazios. A libra síria se enfraqueceu, as exportações sírias diminuíram, e o governo prometeu ajuda com dinheiro do qual não vai dispor por muito tempo.
Em 20 de junho, no primeiro discurso que fez à população síria em dois meses, o ditador Bashar Assad destacou "o colapso da economia síria". As palavras podem ter sido uma hipérbole, visando conseguir apoio à liderança enfraquecida após um levante que já dura três meses. Mas chamaram a atenção para o perigo que a economia do país representa para um governo que há anos vem prometendo vida melhor à população, ao mesmo tempo que se nega a abrir mão do poder político real.
"Nós, como empresários, queremos uma solução. Não podemos aguardar para sempre", disse Muhammad Zaion, comerciante de roupas em Aleppo. "O presidente deveria encontrar uma maneira de sair desta crise ou entregar a responsabilidade para outro."
A revolta síria vem sendo vista em boa parte do mundo como uma reação à repressão ferrenha exercida por um dos governos mais autoritários da região. Mas a economia tem um papel não menos importante na insatisfação. As reformas de mercado que cortaram os subsídios aos alimentos e combustíveis nos últimos sete anos alimentaram a frustração popular, que foi agravada por uma seca devastadora que levou 1,5 milhão de pessoas a deixar o campo em direção às cidades, onde não há empregos suficientes para todos.
Desde que o levante começou, em meados de março, seu impacto mais substancial sobre a economia está sendo no turismo, setor que, segundo economistas, movimenta US$ 8 bilhões por ano.
Um proprietário de hotel em Aleppo disse que a última vez que seu hotel recebeu hóspedes europeus foi em março. "Até julho, vou fechar o hotel", disse o proprietário, Abu George. Para não demitir seus 50 funcionários, ele reduziu pela metade a carga horária de trabalho deles. "Caridade" foi como descreveu sua iniciativa.
Em seu discurso, Assad sugeriu que existe uma crise de confiança, e há um fundo de verdade nisso. Para alguns economistas, a moeda síria já acumula queda de 17%, e um governo que tinha projetado US$ 55 bilhões em investimentos estrangeiros nos próximos anos agora enfrenta a perspectiva de que boa parte desses investimentos não se concretize.
Em abril, o Fundo Monetário Internacional reviu para baixo o crescimento previsto do país para este ano, de 5,5% para 3%, e alguns analistas dizem que a economia pode até mesmo sofrer contração de até 3% em 2011.
Pouco depois de os protestos começarem, o governo deu a entender que tinha consciência do impacto de algumas de suas medidas anteriores: restaurou alguns subsídios dos combustíveis e, dizem economistas, ofereceu aos funcionários públicos o maior aumento em quatro décadas.
"Isso está drenando os recursos do governo", disse o economista Nabil Samman, diretor do Centro de Pesquisas e Documentação de Damasco. "A economia síria não aguentará mais do que três ou quatro meses."
Autoridades americanas dizem acreditar que a base de apoio de Assad entre a elite empresarial esteja se enfraquecendo e sugerem que as preocupações com os conflitos estejam crescendo entre os cristãos e até mesmo os alauítas, a seita muçulmana da qual faz parte a família de Assad.
"Uma chuva começa com uma simples gota", disse Zaion. Em Damasco, um agente de viagens que se identificou como Anwar disse que seu salário de US$ 600 mensais já foi cortado em um quarto. Os turistas cancelaram suas viagens. "Se eu perder meu emprego, vou à mesquita. Se não der certo, vou me juntar aos protestos", disse ele. "É responsabilidade do governo gerar empregos para todos."

Com reportagem de um funcionário do jornal "The New York Times" em Damasco


Texto Anterior: Fé nuclear com base em fantasia
Próximo Texto: Avião russo conhecido por suas falhas

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.