São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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Rotas do deserto revelam aldeia perdida no Egito

Sinais de vida num oásis cercado por um meio hostil

Por JOHN NOBLE WILFORD
Nas últimas duas décadas, John Coleman Darnell e sua mulher, Deborah, percorreram a pé ou de carro as trilhas das caravanas a oeste do Nilo, a partir dos monumentos de Tebas, na atual Luxor. Essas e outras estradas desoladas, pisoteadas por milênios de tráfego humano e muar, não pareciam levar a lugar algum.
Mas o casal Darnell encontrou ruínas de locais onde soldados, mercadores e outros viajantes acampavam no tempo dos faraós. Num penhasco de pedra calcária numa encruzilhada, toparam com um quadro com cenas e símbolos que estão entre os primeiros vestígios da história egípcia.
O Levantamento da Estrada do Deserto de Tebas, um projeto da Universidade Yale que tem o casal Darnell como codiretores, chamou a atenção para o significado, até então menosprezado, das rotas de caravanas e dos oásis na antiguidade egípcia.
E, no final de agosto, o governo do Egito anunciou o que pode ser a descoberta mais espetacular da pesquisa, os restos de um assentamento -aparentemente um centro administrativo, econômico e militar- que floresceu no deserto há mais de 3.500 anos, 177 km a oeste de Luxor e 483 km ao sul do Cairo. Nunca um centro urbano tão antigo foi encontrado no deserto.
John Darnell, professor de egiptologia em Yale, disse que a descoberta pode reescrever a história de um período pouco conhecido do passado egípcio, bem como o papel dos oásis na retomada da civilização.
O sítio de 88 hectares é o Oásis Kharga, uma série de áreas bem irrigadas ao longo de uma depressão de 97 km, no planalto de rocha calcária que se espalha pelo deserto. O oásis fica ao final da antiga Rota de Girga, que saía de Tebas.
Há uma década, o casal Darnell notou sinais de ocupação da época do domínio persa, no século 6 a.C., na vizinhança de um templo. "Um templo não estaria onde estava se esta área não tivesse tido importância estratégica", disse Deborah Darnell.
Em 2005, a equipe recolheu evidências de uma descoberta importante: restos de paredes com tijolos de barro, pedras de moinho, fornos com cinzas e formas de pão partidas.
Descrevendo os artefatos de panificação recolhidos, além dos indícios de guarnição militar, John Darnell disse que o assentamento "assava pão suficiente para alimentar um Exército". Isso inspirou o nome do local, Umm Mawagir -"mãe das formas de pão", em árabe.
A equipe também encontrou prováveis vestígios de um edifício administrativo, de silos para grãos, armazéns e oficinas de artesãos. Os moradores, milhares de pessoas, supostamente cultivavam seus próprios grãos, e a variedade das cerâmicas atesta relações comerciais com uma ampla região.
"As pessoas sempre ficam maravilhadas com os grandes monumentos do vale do Nilo e com os incríveis feitos arquitetônicos que veem lá", disse John Darnell numa publicação de Yale. "Mas acho que elas deveriam perceber quanto mais trabalho foi necessário para desenvolver o Oásis Kharga, em um dos desertos mais rudes e secos da Terra."


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