São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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LENTE

É preciso se contentar com menos

A crise financeira tem motivado uma ladainha de problemas nos EUA, como as dívidas dos mutuários habitacionais, o desemprego em alta, a falência dos bancos e a quase bancarrota do berço da democracia. Some-se mais um item à lista: o rebaixamento das expectativas.
Quando o governo americano propôs limites à remuneração de executivos de indústrias automobilísticas e bancos beneficiados pelo resgate financeiro estatal, dirigentes dessas empresas se queixaram de que seus funcionários de maior talento as trocariam por empregos mais lucrativos.
Talvez fosse cedo demais para falar.
Dos 104 altos executivos cuja remuneração foi estabelecida pelos reguladores federais nos últimos dois anos, quase 85% continuam nas mesmas empresas, com salários mais baixos, noticiou o "New York Times".
As melhores remunerações em cinco empresas americanas que receberam múltiplas ajudas devem cair em média 11% em relação a 2009, ficando em US$ 1,62 milhão. Em relação a 2008, a queda é de quase 77%.
Lá se vai a tese da fuga dos executivos.
Para outros que perderam empregos bem pagos e com muita responsabilidade, uma nova colocação é melhor do que o desemprego.
Jackie Swanson, 44, aceitou em maio um emprego como gerente de instalações da Conservation Services Group, empresa do Estado de Massachusetts que implementa programas de eficiência energética, relatou o "New York Times". Ela havia sido demitida após 16 anos em uma companhia onde lidava com o planejamento de mais de 50 filiais. Agora, é responsável por manter apenas um prédio. "Eu estava disposta a aceitar uma drástica redução de pagamento só para ter estabilidade", disse ela ao "Times".
Don Carroll, ex-analista financeiro com MBA numa boa universidade, estava superqualificado para comandar o departamento responsável por resolver queixas por danos na Cartwright International, pequena companhia familiar de mudanças nos arredores de Kansas City. Ele se orgulha da modernização que promove, mas, com frequência, fala aos colegas dos seus diplomas e da sua experiência prévia.
"Obviamente isso deriva talvez de algum constrangimento", disse ele ao "Times". "Quero que as pessoas saibam que, até certo ponto, esse não sou eu."
Alguns gregos não estão a fim de aceitar mudanças, embora o gasto do governo com previdência e saúde possa passar dos atuais 20% para cerca de 37% do PIB nacional até 2060, o que seria o maior nível da Europa, relatou o "Times". "Os gastos previdenciários projetados estão previstos para duplicar", disse Manos Matsaganis, professor da Universidade de Atenas. "Isso é insustentável."
Poucos aceitam reduzir suas pensões. "Ninguém acha que tem de ser quem vai se sacrificar", afirmou Matsaganis. Mas alguns parecem dispostos a fazer concessões, ainda que pequenas, e há apoio popular a medidas de austeridade, embora protestos nas ruas sejam comuns.
Michalis Sekendis, vendedor de uma joalheira em frente à Ágora, a praça onde os antigos gregos estabeleceram os fundamentos da democracia, sabe que o dinheiro para tirar o país do buraco em que se meteu tem de vir de algum lugar.
"Não me importo de pagar um extra pelo meu cigarro", disse ele ao "Times".


TOM BRADY
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