São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Candahar vive tensão antes de ofensiva

Por CARLOTTA GALL
CANDAHAR, Afeganistão - Forças dos EUA iniciaram operações para repelir insurgentes em Candahar, a mais importante Província do sul do Afeganistão, lugar de origem e lar espiritual do Taleban, e uma ofensiva em escala total é aguardada para as próximas semanas. Mas o Taleban já converteu a cidade em um campo de batalha enquanto se prepara para a operação, que autoridades americanas esperam que seja decisiva para romper o domínio da insurgência sobre o sul afegão.
Quando as forças americanas chegarem em peso, encontrarão dificuldades maiores que quaisquer outras no país. Assassinatos e atentados suicidas do Taleban já deixaram a cidade virtualmente paralisada de medo.
Segundo moradores de Candahar, os militantes percorrem as ruas sem medo, vão a lojas e chegam a pressionar as pessoas a guardar armas e outros suprimentos em suas casas para eles, preparando-se para a guerra urbana.
O governo, corrupto e ineficaz, não conta com praticamente nenhum apoio popular. Qualquer pessoa que tenha ligação com o governo convive com o medo de ser assassinada. Os poucos representantes governamentais vivem enclausurados atrás de muros altos, erguidos para protegê-los de explosões. As pessoas dizem que a situação de segurança é a pior vista desde a queda do governo do Taleban, em 2001.
"Eles [militantes] estão se concentrando na cidade", disse Hajji Agha Lalai, vereador da Província e ex-chefe da comissão de paz e reconciliação em Candahar. Lalai tem contatos extensos com o Taleban. "O Taleban quer mostrar-se ao mundo, quer declarar ao mundo: 'Estamos aqui'."
A intensificação da campanha do Taleban revela a importância que a insurgência dá a Candahar. E é para lá que está indo a maioria dos 30 mil soldados adicionais que os EUA devem mandar ao Afeganistão neste ano.
A expectativa é que a escalada da próxima ofensiva americana supere em muito a operação recente em Marjah, na vizinha Província de Helmand, para onde foram enviados 15 mil soldados dos EUA, da Otan e afegãos para garantir a segurança de uma área menor que Candahar, capital provincial de 500 mil habitantes.
Os EUA vêm se preparando para Candahar desde o ano passado, erguendo uma presença em volta da cidade e ao longo da fronteira paquistanesa. Mas, segundo moradores locais, o resultado disso tem sido a rápida deterioração da vida no centro urbano mais importante do sul do Afeganistão. Homens-bomba mataram 35 pessoas em 13 de março, e o Taleban emitiu diversos avisos de que está na cidade e planeja mais ataques. Uma defensora dos direitos humanos que pediu anonimato disse: "Não nos sentimos seguras na cidade. Até mesmo para os homens é perigoso sair na rua".
Autoridades disseram que o Taleban lançou uma série de ataques à polícia e outras autoridades na cidade. Matou um ou dois policiais a cada noite durante vários dias e roubou suas armas.
Um funcionário do governo -Abdul Majeed Babai, que era chefe do Departamento de Informação e Cultura da Província e uma figura popular- foi abatido a tiros quando estava a caminho do trabalho, em 24 de fevereiro. Segundo familiares, ele recebera ameaças do Taleban, que queria que ele deixasse seu cargo.
"Os insurgentes podem andar por aí livremente, enquanto pessoas do governo não podem", disse Hajji Lalai. Além dos perigos, residentes de Candahar se dizem desesperançados com a crise política que atinge a Província.
O poder real está nas mãos de apenas duas famílias, que vêm prosperando sob a presença das forças americanas nos últimos oito anos. Uma delas é a família do presidente Hamid Karzai, representada em Candahar por seu irmão, Ahmed Wali Karzai, chefe do conselho da Província.
A outra é a família do ex-governador de Candahar Gul Agha Shirzai e seus irmãos Bacha Shirzai e Razziq Shirzai, que fecharam contratos lucrativos de segurança e construção com as forças da Otan.
Moradores e líderes tradicionais da cidade acusam as famílias de perseguir seus rivais e excluir todas as outras tribos do acesso ao poder. Sua hegemonia enfraqueceu qualquer possível apoio popular ao governo ou às forças estrangeiras que o apoiam.
"A primeira coisa que os afegãos temem é a chegada de mais tropas estrangeiras, e a segunda, é o aumento do poder da liderança e administração atuais", disse Shahabuddin Akhunzada, líder tribal de Candahar.
"Os americanos, a comunidade internacional, todas as forças militares perderam a confiança do povo. Não confiamos mais no que eles dizem."


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