São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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DIÁRIO DE RUDNO

Sacerdotes católicos são pais de família na Ucrânia

Por CLIFFORD J. LEVY
RUDNO, Ucrânia - O resto da Europa está conturbado com as discussões sobre se o celibato dos padres católicos romanos é ou não a causa dos escândalos de abusos sexuais que têm se desenrolado no continente. No oeste da Ucrânia, porém, muitos padres católicos são casados e estão se multiplicando -com a bênção do Vaticano.
As crianças que correm de um lado a outro na casa dos Volovetskiy são testemunhas disso.
Os seis filhos da família vão de Pavlina, 21, a Taras, 9. Roman, 16, quer ser padre católico quando crescer. Como seu pai.
O pai da família é o sacerdote Yuriy Volovetskiy, que comanda uma pequena paróquia em Rudno e cuja mulher, Vera, dá aulas de religião na escola. O casal Volovetskiy atua na Igreja Católica Grega Ucraniana, para a qual os padres celibatários não são necessariamente melhores padres por serem celibatários.
Os católicos gregos ucranianos representam um ramo do catolicismo distinto do ramo católico apostólico romano, que é muito maior. A igreja ucraniana é fiel ao papa em Roma, e seu líder é um cardeal-arcebispo destacado. Mas suas missas são mais semelhantes às da Igreja Ortodoxa Oriental. Em termos religiosos, ela observa o rito oriental, e não o ritual latino que é costumeiro no catolicismo romano.
Historicamente falando, o Vaticano parece ter tolerado as tradições e a atitude em relação ao celibato dos chamados católicos do rito oriental, visando, com isso, conservar uma presença em regiões onde prevalece o cristianismo ortodoxo. Mas essa exceção sugere que a visão que o Vaticano tem do celibato não é tão rígida e monolítica quanto se possa imaginar.
Embora relutem em criticar o papa Bento 16 por sua posição inflexível em relação à exigência do celibato, os padres ucranianos disseram que o fato de serem autorizados a ter famílias enriquece sua capacidade de atender às necessidades de seus fiéis.
"É importante que um padre tenha uma compreensão não apenas de si mesmo", disse o padre Volovetskiy, 45. "Ter família proporciona ao padre um entendimento mais profundo de como relacionar-se com outras pessoas e ajudá-las. É mais natural, faz mais sentido, que um padre tenha mulher e filhos."
O padre Roman Kravchyk, 50, que ocupa um cargo sênior na Igreja Católica Grega Ucraniana, disse que seminaristas lhe perguntam com frequência se deveriam tentar formar uma família ou permanecer celibatários (relações sexuais fora do casamento não são uma opção permitida). Ele disse que não encoraja fortemente nenhuma das duas opções, mas chamou a atenção para as vantagens do casamento.
"Parece-me que, quando um padre não é casado, é difícil para ele explicar coisas a seus fiéis", disse Kravchyk. "Porque ele mesmo não teve essas vivências."
Os padres Kravchyk e Volovetskiy, que foram entrevistados no oeste da Ucrânia antes de um dos escândalos estourar na Alemanha, se negaram a comentar a questão de se os abusos sexuais cometidos por padres teriam ou não alguma ligação com o celibato. O Vaticano rejeita qualquer vínculo entre as duas coisas.
O padre Volovestkiy disse que o fato de ter filhos mudou a maneira como ele aborda sua vocação. "Isso me ajudou a enxergar o mundo através dos olhos de outros", disse ele. "E ajuda as pessoas a confiar mais em mim. As pessoas veem que há um padre que tem uma família, elas veem como vivemos. Fazemos parte da sociedade."


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