São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Acesso a faculdades atormenta indianos

Pressão pré-exames elevou a incidência de diabetes

Por JIM YARDLEY
NOVA DÉLI - Sadhvi Konchada fez recentemente seu quinto e último exame geral do ensino médio (similar ao Enem brasileiro). Estava nervosa, embora houvesse feito 11 exames gerais, pré-exames gerais ou pré-pré-exames gerais desde janeiro e tenha outras provas pela frente. Quando entrar na faculdade, ela terá sido submetida a 22 exames gerais ou vestibulares.
Sadhvi, 17, tem aulas particulares diárias, estuda constantemente e considera sua agenda ridícula. Mas isso não é raro. No condomínio de classe média onde ela mora, as provas são uma obsessão para as famílias de colegiais. Pais fofocam sobre notas, se angustiam com elas e rezam por elas. Tutores divulgam resultados de simulados e atualizam os pais com mensagens de texto comparando as notas dos seus filhos com as de outros alunos. Os estudantes passam meses se preparando e se preocupando.
"Temos de mantê-los sob pressão", disse Jaya Samaddar, cuja filha está estudando para o exame nacional do 10? ano. "Não temos outra escolha."
A Índia tem uma das populações mais jovens do mundo, o que é visto como um "dividendo demográfico". Mas o constante aumento da classe média acirra ainda mais a competição por vagas universitárias.
Para concluir o ensino médio, os alunos precisam passar nos exames gerais nacionais. Esses mesmos exames também funcionam mais ou menos como um teste de aptidão para a maioria das graduações, especialmente na área de humanas. No entanto, candidatos a algumas universidades, especialmente aquelas com graduações técnicas como a de engenharia, também precisam fazer vestibulares à parte.
Como o acesso à universidade se baseia majoritariamente nos exames gerais e nos vestibulares, a temporada de provas se torna um período torturante para alunos e suas famílias. A pressão é tão intensa que uma importante clínica de diabetes em Nova Déli atribuiu uma forte alta no número de pacientes com excesso de açúcar no sangue ou com hipertensão ao crescente estresse provocado pela temporada de provas dos filhos. Um aluno de 18 anos recentemente se enforcou em um ventilador de teto em sua casa, em Nova Déli, deixando um bilhete em que manifestava a preocupação de ter ido mal em parte do seu exame geral do 12? ano.
Embora alunos indianos de elite tenham alcançado um notável sucesso estudando no exterior, o sistema educacional do país é amplamente visto como falho para dezenas de milhões de alunos na base da pirâmide, que abandonam os estudos antes do ensino médio, e para o grupo menor no topo, que compete pelo acesso a universidades -que são poucas e carentes de recursos.
"Se você tem 150 milhões ou 160 milhões de crianças que não vão à faculdade, o que vai acontecer com elas dentro de dez ou 15 anos?" perguntou Kapil Sibal, ministro responsável pela educação no país, antevendo um "desastre demográfico".
A reforma educacional se tornou prioridade para o governo do Partido do Congresso. O número limitado de boas escolas é especialmente problemático, já que 40 milhões de alunos adicionais devem ser incorporados na próxima década. Isso gera uma incrível competição pelo acesso às universidades de elite, especialmente nos respeitados Institutos Indianos de Tecnologia (IIT). Em 2008, 320 mil candidatos participaram do vestibular para as suas 8.000 vagas.
Para os pais, a ansiedade deriva do medo de que uma nota ruim atrapalhe o futuro dos seus filhos, mas também da competitividade social para que o jovem tenha uma nota superior ao cobiçado nível de 90%. "A nota do filho se tornou símbolo de status social", disse Samaddar. "Se vamos a uma festa hoje em dia, todo o mundo me pergunta: 'Como a sua filha está indo?'. Ninguém pergunta sobre a minha saúde. A questão é: 'Qual é o status acadêmico do seu filho?'."
Meetali, a filha dela, cogita prestar engenharia, mas precisa ter boas notas na prova do 10? ano para ser aceita nas turmas da sua escola voltadas para a área científica. Samaddar disse que há meses sua filha não vai ao cinema.
"Às vezes eu a escuto falando ao telefone, dizendo a uma amiga: 'Vai dormir, vai dormir, vai dormir; você tem três exames amanhã'. E eu me sinto mal."


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