São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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Detalhes de obra-prima intrigam estudiosos

Por NICHOLAS BAKALAR

Dois professores americanos acreditam ter descoberto um dos raros desenhos anatômicos de Michelangelo em um painel no teto da Capela Sistina, que, segundo os estudiosos, esteve escondido à plena vista nos últimos 500 anos.
Michelangelo foi um estudante cuidadoso da anatomia humana e dissecou cadáveres entusiasticamente durante toda a sua vida, mas poucos de seus desenhos anatômicos sobrevivem.
Este, uma representação do cérebro humano e do tronco cerebral, parece estar desenhado no pescoço de Deus, mas nem todos os historiadores da arte conseguem vê-lo.
A última descoberta, descrita em um estudo na edição de maio da revista "Neurosurgery", aparece diretamente sobre o altar em "A separação da luz da escuridão", um painel da série de nove que mostra cenas do Livro do Gênese.
Deus, vestindo túnicas vermelhas esvoaçantes, é visto de baixo e encurtado, e parece se erguer para o céu. Seus braços estão erguidos acima da cabeça, e ele olha para cima e à sua direita, expondo o pescoço e a parte inferior da barba curta.
É aqui que os autores do estudo, o ilustrador médico Ian Suk e o neurocirurgião Rafael Tamargo, da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, acreditam que Michelangelo escondeu um desenho do lado inferior do cérebro e do tronco cerebral, com partes do lobo temporal, da medula, da ponte e outras estruturas claramente desenhadas.
Na visão de Tamargo, o pescoço de Deus no afresco é claramente diferente daqueles de outras figuras mostradas mais ou menos na mesma posição.
Geralmente, o pescoço parece macio, mas em "A separação da luz da escuridão" existem linhas e formas muito diferentes da anatomia externa normal do pescoço -irregularidades que, ele acredita, não podem ser acidentais.
Isso está realmente lá, ou os autores enxergam formas onde não existem? A interpretação, disse Tamargo, "certamente é subjetiva -os artistas não acompanham seu trabalho de uma descrição do que estão pintando lá. Mas eu acho que, como em qualquer descoberta, ou ela é validada ou rejeitada pelo que os outros pensam".
O que os outros pensam varia consideravelmente. "Suk e Tamargo parecem ter feito bem sua lição de casa", disse Gail L. Geiger, professora de história da arte na Universidade de Wisconsin, em Madison. "Eu acho o núcleo de seu trabalho muito convincente." Mas a professora de história da arte Joanna Woods-Marsden, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, discorda: "Minha reação inicial ao olhar para as ilustrações e que é um absurdo total, para dizer de uma forma educada", ela escreveu em uma mensagem de e-mail.


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