São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Ênfase no crescimento é considerada errada

Por PETER S. GOODMAN

Entre as possíveis baixas da recessão atual estão os parâmetros em que os economistas tradicionalmente se basearam para avaliar o bem-estar da sociedade.
Em um novo e provocativo estudo, uma dupla de economistas vencedores do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz e Amartya Sen, pede a adoção de novos instrumentos de avaliação que incluam uma preocupação mais ampla pelo bem-estar humano do que só o crescimento econômico. Segundo eles, grande parte do desastre econômico contemporâneo se deve à suposição errônea de que os criadores de política precisavam se concentrar apenas no aumento do crescimento, confiando que isso maximizaria a prosperidade para todos.
"O que você mede afeta o que você faz", disse Stiglitz a jornalistas em Nova York, em 22 de setembro.
"Se você não medir a coisa certa, não fará a coisa certa."
Segundo o relatório, grande parte do mundo é governada há muito tempo por uma fixação insalubre no inchaço do Produto Interno Bruto, ou na quantidade de bens e serviços que a economia produz. O relatório foi encomendado no ano passado pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, cuja insatisfação com as ferramentas de avaliação econômica existentes o levou a criar a Comissão sobre Medição de Desempenho Econômico e Progresso Social. A agência oficial de estatísticas francesa está trabalhando para adotar as recomendações do relatório.
Sejam quais forem as opiniões sobre os méritos da política econômica europeia, a crise atual está provocando um reexame de como os economistas medem os sinais vitais -especialmente nos EUA.
Segundo a maioria das avaliações, a economia americana está crescendo novamente. Muitos especialistas esperam um índice anual de expansão de 3% entre julho e setembro. No sentido técnico, a recessão parece ter acabado. Mas o índice de desemprego está em 9,7% e provavelmente aumentará. Para milhões de americanos que ainda lutam contra o desemprego e a dívida, os sinais apresentados pelos indicadores econômicos tradicionais parecem desconectados da vida cotidiana.
Esse foi o tipo de contradição que Sarkozy tentou desfazer quando criou a comissão. Para dirigir o painel ele escolheu Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial cujos livros representam uma denúncia do modelo de integração econômica global defendido por Washington.
O relatório resultante é um tratado sobre a inadequação do crescimento do PIB como indicador da saúde econômica geral. Ele cita o exemplo da maior condução de automóveis, que pesa como positiva na estrutura do crescimento econômico, pois exige maior produção de gasolina e de carros, mas não leva em conta as horas de lazer e o tempo de trabalho desperdiçados em engarrafamentos e os custos ambientais dos poluentes despejados na atmosfera.
Durante a bolha imobiliária que antecedeu a crise econômica, o enfoque no crescimento econômico ajudou a incentivar o excesso de investimentos na construção de imóveis. O crédito permitiu os gastos, e os gastos se traduziram em crescimento mais rápido -resultado que era considerado intrinsecamente bom, independentemente de quanto tempo poderia durar ou das convulsões que acompanhariam o fim do dinheiro fácil.
Em vez de concentrar as avaliações nos produtos e serviços que uma economia gera, os políticos fariam melhor enfocando o bem-estar material das pessoas típicas, medindo a renda e o consumo, juntamente com a disponibilidade de atendimento de saúde e educação, concluiu o relatório.
"Considerávamos o PIB uma medida de como estávamos nos saindo bem, mas isso não nos diz se é sustentável", disse Stiglitz. "Sua medida de produção é distorcida pelo fracasso de nosso sistema de contabilidade. O que começou como uma medida do desempenho do mercado tornou-se cada vez mais uma medida do desempenho social, e isso é errado."

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