São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Exposição de foto jornalística em galeria provoca debate

Por NOAM COHEN

Os advogados de direitos autorais têm discutido a apropriação feita por Shepard Fairey de uma foto de imprensa do presidente dos EUA, Barack Obama, para o cartaz de sua campanha “Hope” [Esperança], e se ela constitui o “uso justo”, que permite a utilização limitada de material sem autorização.
Ninguém negou que se trata de uma obra de arte.
Mas e a fotografia em que se baseia o cartaz? Tirada por Mannie Garcia em um trabalho para a agência Associated Press em 2006, hoje a foto está à venda em uma galeria de Manhattan em tiragem limitada de 200 cópias a US$ 1.200 cada. Pelo menos uma foi comprada por um museu de arte.
Para conseguir a foto de Obama, Garcia estava na primeira fila do Clube Nacional de Imprensa em 27 de abril de 2006. Sua pauta naquele dia era fotografar George Clooney, que tinha voltado de uma visita a campos de refugiados na região de Darfur, no Sudão. Obama, então senador de Illinois, acompanhou Clooney na entrevista coletiva e acabou saindo em algumas das fotos de Garcia.
Mais de um ano depois, essa fotografia impressionou Fairey enquanto ele procurava no Google uma imagem de Obama para um pôster.
A história do século 21 está cheia de exemplos de fotografias e vídeos jornalísticos que ajudaram a provocar revoluções e forneceram imagens para cartazes e camisetas. A foto icônica do revolucionário marxista Che Guevara, por exemplo, é um estudo de improbabilidades: assim como Garcia, o fotógrafo Alberto Korda estava cobrindo outra coisa (um serviço fúnebre), e Guevara era apenas um acessório. Somente mais tarde a foto capturou a imaginação pública.
O crítico cultural Luc Sante abordou a questão em termos de artesanato e acesso e o que o espectador traz para a experiência. As fotos de Obama e Guevara, ele escreveu em uma mensagem eletrônica, “têm uma característica icônica chave em comum: o sujeito está olhando para o céu, contra um fundo neutro ou vazio”, replicando “um modelo icônico comprovado, mais intimamente identificado no Ocidente com Jesus Cristo”.
“É totalmente concebível que essa foto tivesse sido tirada por uma criança, um robô ou um chimpanzé —não é tão difícil quanto digitar Shakespeare ao acaso e nesse sentido é muito mais uma questão de sorte do que a maioria das grandes peças do fotojornalismo”, ele continuou.
Anne Wilkes Tucker, curadora de fotografia do Museu de Arte de Houston, disse que comprou a foto de Garcia juntamente com o cartaz de Fairey e perguntou a si mesma: “Teríamos adquirido a foto por si só, sem o cartaz? Não sei”.
Ainda assim, ela disse que discorda fortemente de atribuir o sucesso de Garcia à sorte.
Por saberem estar no lugar certo e na hora certa, disse ela, “os fotojornalistas são como atletas”.


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