São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2011

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Luz sobre a corrida espacial

Kennedy tentou atrair soviéticos para uma missão

JOHN NOBLE WILFORD
ENSAIO

Era a primavera de 1961. Falando em novas fronteiras e projetando o vigor da juventude, o presidente John F. Kennedy mal estava no poder havia quatro meses, e abril tinha sido o mais cruel desses meses.
No dia 12 de abril, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro humano a orbitar a Terra -mais um triunfo espacial da União Soviética. Embora o voo não tenha sido inesperado, não deixou de ser desanimador; mais de um mês se passaria até Alan Shepard tornar-se o primeiro americano no espaço, e isso em um voo suborbital de 15 minutos. No dia 17, uma força de exilados contrária a Castro, treinada pela CIA, invadiu a comunista Cuba na Baía dos Porcos -um fiasco em 36 horas. No dia 19 de abril, Theodore Sorensen, assessor próximo de Kennedy, descreveu o presidente como "angustiado e fatigado", "no estado mais emocional e autocrítico em que eu já o vi".
Em uma reunião, seu irmão Robert F. Kennedy, o ministro da Justiça, "atacou todo o mundo", foi relatado, dizendo: "Vocês todos, caras inteligentes. Vocês meteram o presidente nesta enrascada. Precisamos fazer alguma coisa para mostrar aos russos que não somos tigres de papel."
Em outra reunião, o presidente suplicou: "Se alguém puder, me diga apenas como podemos recuperar o atraso. Vamos encontrar alguém -qualquer pessoa. Não me importo se for o zelador ali." Voltando ao Salão Oval, ele disse a Sorensen: "Não há nada mais importante que isso".
Assim, 50 anos atrás, em 25 de maio de 1961, o presidente Kennedy discursou perante uma sessão conjunta do Congresso e um público televisivo nacional, declarando: "Acredito que este país deva engajar-se em alcançar a meta, antes de esta década terminar, de levar um homem a pousar sobre a Lua e trazê-lo de volta à Terra em segurança".
O novo livro "John F. Kennedy and the Race to the Moon" (John F. Kennedy e a corrida à Lua), de John M. Logsdon, cientista político e, durante anos, especialista em política espacial na Universidade George Washington, se baseia em novas pesquisas em arquivos, histórias orais e livros de memórias disponibilizados nos últimos anos para lançar nova luz sobre a corrida à Lua.
O discurso famoso foi feito após cinco semanas de angústia, memorandos nos bastidores e conferências a portas fechadas, comandadas pelo então vice-presidente americano, Lyndon Johnson. Nessas reuniões, representantes da Nasa e do Pentágono, cientistas, engenheiros e analistas orçamentários decidiram que enviar astronautas à Lua até o final da década seria a melhor maneira que o país teria para superar a dianteira espacial soviética.
Mas, disse Logsdon, os novos materiais ressaltaram alguns temas recorrentes que tinham passado despercebidos, como o fato de Kennedy ter reiterado várias vezes a ideia de chamar os russos para um empreendimento conjunto e de quão pouco se sabia sobre as capacidades e intenções da União Soviética.
O presidente americano não podia saber se os russos tinham um programa de pouso na Lua. Apenas em 1964, agentes de inteligência detectaram sinais de que os soviéticos também planejavam uma missão.
Em setembro de 1963, em um discurso nas Nações Unidas, Kennedy fez um convite aos russos para se unirem aos EUA em uma missão cooperativa. Ele havia feito a proposta informalmente ao líder soviético, Nikita Kruschev, em um encontro em Viena. O convite foi rejeitado de imediato. Relatos russos feitos após a Guerra Fria vincularam a recusa ao medo de expor as deficiências tecnológicas do programa do país.
Walter A. McDougall, o historiador que escreveu "The Heavens and the Earth: A Political History of the Space Age" (os céus e a Terra: uma história política da era espacial), sugeriu que as mensagens periódicas de Kennedy sobre cooperação espacial "não teriam passado de exercícios na construção de uma imagem".
O objetivo de Kennedy foi alcançado em 20 de julho de 1969, quando Neil Armstrong e depois Buzz Aldrin pisaram sobre a superfície cinza do Mar da Tranquilidade. No livro e na entrevista, Logsdon buscou consolo na ideia de que voar até a Lua seria pelo menos "para sempre um marco histórico na experiência humana". Mesmo críticos como McDougall reconheceram que "talvez o Apollo não pudesse ser justificado, mas, por Deus, não podíamos deixar de fazê-lo".


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