São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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Podem governos nutrir o espírito inovador?

STEVE LOHR
ENSAIO

Inovação -o processo complicado por meio do qual ideias se convertem em produtos e serviços- geralmente é visto, analisado e comemorado no nível micro, como um objetivo de empresários e companhias inteligentes.
Mas os governos cada vez mais entram nesse jogo, declarando agendas de inovação e indicando importantes autoridades para a área. O ímpeto vem de duas frentes: os grandes desafios em campos como energia, meio ambiente e saúde, que exigem a colaboração entre os setores público e privado; e os fracassos do desenvolvimento econômico e das políticas industriais tradicionais.
O interesse pelas políticas de inovação representa uma questão importante: qual o papel apropriado do governo na criação de indústrias e empregos na economia global de alta tecnologia de hoje?
Essa questão animou grande parte da discussão em uma reunião incomum em junho, na Califórnia (EUA). Esse encontro só para convidados foi organizado e moderado por John Kao, ex-professor de economia de Harvard e fundador do Instituto Large Scale Innovation (Inovação em Grande Escala), e reuniu participantes de Austrália, Brasil, Reino Unido, Chile, Colômbia, Finlândia, Índia, Noruega e Cingapura.
"Trata-se de definir uma agenda e formar um portfólio de capacidades que permitem que uma economia e uma sociedade avancem de maneiras mais rápidas e inteligentes", disse Kao.
No Reino Unido, começa a tomar forma uma agenda nacional de inovação, com a definição de políticas e a criação de um Departamento para Negócios, Inovação e Capacidades. "Estamos decididos a não adivinhar o futuro tentando escolher vencedores e perdedores", disse Philip Rycroft, oficial governamental que supervisiona a política de inovação. "Mas achamos que o governo pode criar condições para que novas indústrias cresçam com maior facilidade."
Na Índia, o governo e a indústria financiaram pesquisas de novos produtos e serviços que invertem o padrão tradicional de a inovação fluir gradualmente dos países ricos para o resto do mundo, disse R. A. Mashelkar, presidente da Fundação Nacional de Inovação indiana. As primeiras evidências dessa tendência, segundo ele, incluem o automóvel Nano, de US$ 2 mil, e medicamentos de baixo custo para tuberculose e psoríase.
"Se você fizer uma coisa para os ricos, os pobres não poderão pagar", disse Mashelkar. "Mas se você criar para os pobres, todo o mundo terá acesso."
Em contrapartida, há quem pense que a política de inovação é só uma forma de o governo interferir em temas que deveria deixar ao mercado. Mas Lars Aukrust, diretor executivo do Conselho de Pesquisa da Noruega, respondeu a essa crítica comparando um país com uma grande empresa. "Se você for dirigir uma grande companhia, vai deixar tudo ao acaso, ou fazer opções estratégicas?", questionou. "A política de inovação é um jogo de probabilidades. Você pode melhorar as probabilidades de sucesso."


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