São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Terremoto gigante passa despercebido nos círculos sísmicos

Por KENNETH CHANG
Para surpresa dos sismólogos, eles perderam um terremoto de magnitude 8.0 no ano passado. "É meio chocante", disse Thorne Lay, professor de ciências da terra e planetárias na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, chefe da equipe que descobriu as impressões sísmicas meses depois.
Os tremores de magnitude 8 são conhecidos como grandes terremotos por seu feroz poder de destruição. Mas nesse caso o grande terremoto foi escondido por outro ainda maior.
O maior deles, de magnitude 8.1, ocorreu em 29 de setembro de 2009 ao largo das ilhas Samoa, no Pacífico. Foi uma surpresa para os sismólogos, porque não havia terremotos conhecidos dessa magnitude na trincheira oceânica de Tonga. A placa do Pacífico desliza por baixo da placa Australiana nesse local, levando os cientistas a acreditar que a falha ali existente é bem lubrificada e não acumula tensão suficiente para gerar grandes terremotos.
Ainda assim, as duas placas tectônicas estão se acelerando uma em direção à outra mais depressa do que em qualquer outro lugar do mundo, cerca de 25 cm por ano.
O tsunâmi resultante, que varreu Samoa, Samoa Americana e Tonga, matando mais de cem pessoas, também deixou os cientistas intrigados.
O terremoto de magnitude 8.1 não ocorreu na fronteira da placa, mas para leste, onde uma falha na placa do Pacífico se separou.
Esse tipo de terremoto empurra o leito marinho para cima e pode gerar prontamente um tsunâmi, mas a onda inicial teria sido de fundo, pois o leito marinho se afundou. Em vez disso, alguns sensores de tsunâmi no leito oceânico detectaram a onda inicial como uma crista.
Examinando dados de marcadores de satélite de posicionamento global, John Beavan, geofísico da GNS Science da Nova Zelândia, um instituto de pesquisa de propriedade do governo, e seus colegas descobriram que Niuatoputapu, uma pequena ilha de Tonga, saltou cerca de 40,5 cm para leste, em vez do movimento esperado de menos de 2,5 cm para sudoeste.
A posição de Niuatoputapu -e a crista inicial do tsunâmi- poderiam ser explicadas se houvesse um terremoto quase simultâneo de magnitude 8.0 causado por uma falha com movimento para cima na trincheira de Tonga.
Enquanto isso, Lay tentava descobrir como explicar os dados sísmicos. "Havia observações de abalos em diferentes direções onde não deveria haver nada", disse.
Somente quando sua equipe levou em conta um segundo terremoto a história começou a fazer sentido.
"Levamos quatro, cinco meses para descobrir", disse Lay. "Foi muito difícil decifrar o que aconteceu."
Em comparação, eles conseguiram solucionar em poucas horas a dinâmica do terremoto de magnitude 8.8 ao largo do Chile em fevereiro.
Trabalhos diferentes feitos pelas equipes de Lay e de Beavan foram publicados na revista "Nature".
Lay disse que os dados sísmicos indicam que o terremoto maior ocorreu primeiro e o terremoto oculto se seguiu menos de 45 segundos depois. Ele supõe que o abalo do primeiro afrouxou a segunda falha e provocou o segundo.


Texto Anterior: Na morte de Mozart, um coro de causas
Próximo Texto: Arte & Estilo
Monitorando sítios antigos com técnicas modernas

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.