São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Pedágio ameaça trégua em Gibraltar

Por SUZANNE DALEY
GIBRALTAR - Em meados de 2009, o chanceler espanhol visitou Gibraltar, na primeira viagem de uma autoridade tão graduada desde que a Espanha cedeu o território à Grã-Bretanha, sob o Tratado de Utrecht, em 1713.
É claro que a Espanha não abdicou de reivindicar o minúsculo território -menos de oito quilômetros quadrados, grande parte com um rochedo- na ponta da Península Ibérica. Mas disputas antigas foram resolvidas nos últimos anos, e um acordo foi firmado em 2006 para dar à Espanha acesso ao aeroporto de Gibraltar, cujas pistas são cruzadas por carros quando não há aviões.
Ultimamente, no entanto, as coisas não têm andado tão bem.
Alejandro Sánchez, prefeito de La Línea de la Concepción, cidade do lado espanhol da fronteira, imersa em crise econômica, tem se queixado em várias frentes.
Ele não está satisfeito com o acordo aeroportuário porque diz que La Línea não recebeu pagamento do governo espanhol pelo terreno necessário para a construção do acesso espanhol ao terminal.
E ele ameaça cobrar um pedágio dos 10 milhões de veículos que cruzam anualmente a sua cidade, principalmente com pessoas que vão fazer compras nas densas ruas de Gibraltar.
Sánchez diz que a renda começaria a compensar o impacto ambiental gerado por tantos carros -e a feiúra das longas filas de veículos que esperam para entrar na colônia britânica, onde cigarros, bebidas, perfumes e chocolates são mais baratos.
"Temos a cidade mais poluída de toda a Andaluzia", lamentou Sánchez.
O ministro-chefe de Gibraltar, Peter Caruana, qualifica a proposta como "absurda" e o prefeito Sánchez como "um incômodo irrelevante".
Espanhóis e britânicos brigam por Gibraltar desde que as forças anglo-holandesas capturaram o território na Guerra da Sucessão Espanhola, no século 18. Mas, desta vez, as tensões parecem ter sido provocadas por interesses puramente locais -Sánchez está atrás de dinheiro.
Gibraltar, um paraíso fiscal, está prosperando. Sua economia cresceu 5% no último ano. Caruana diz que há talvez apenas 300 desempregados em Gibraltar, cuja população é de cerca de 30 mil pessoas.
Em La Línea, cidade com 65 mil habitantes, uma em cada seis pessoas é desempregada. Engolida pelos excessos do "boom" espanhol da construção civil, a cidade tem uma dívida superior a US$ 135 milhões.
Sánchez herdou a confusão quando seu sucessor foi forçado a renunciar. De início, defendeu o acordo aeroportuário como sendo uma dádiva para a economia local. Mas, ultimamente, ele só quer que a cidade receba o pagamento por seu terreno.
"Esse é um dos nossos patrimônios mais valiosos", disse Sánchez. "E temos outras possibilidades para o uso desse terreno." Ele está à espera de que o governo da Espanha lhe faça uma oferta razoável.
Suas exigências não lhe rendem amizades em Madri. Sánchez, que pertence ao Partido Popular (oposição), recebeu uma reprimenda de Salvador de la Encina, parlamentar da província de Cádiz com interesse em questões de infraestrutura. Ele disse que a Espanha cumprirá sua parte no acordo "com ou sem Sánchez".
Em ambos os lados da fronteira, não é difícil encontrar cidadãos descontentes com as hostilidades. Mas uma sensação de injustiça é arraigada no lado espanhol. Milhares de pessoas entram todos os dias em Gibraltar para trabalhar em empregos pouco qualificados.
Sánchez esperava que o pedágio já estivesse implantado. Mas ele ainda luta por uma estratégia jurídica. Países da União Europeia não podem cobrar pedágios em suas fronteiras. Sánchez, entretanto, diz ter contratado advogados em Bruxelas que acreditam que será possível dar um jeito.
"Estamos desenvolvendo um plano", disse. "Vocês vão ver. Em breve, vamos apresentá-lo."

Colaborou Rachel Chaundler



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