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INTELIGÊNCIA
ROGER COHEN
A necessidade de um reforço energético
Derrame de óleo influi mais que a guerra afegã
Nova York
"Drill, Baby, Drill!" (perfure, baby, perfure!) foi um dos slogans mais
memoráveis da campanha presidencial republicana de 2008 nos EUA, apreciado
especialmente por Sarah Palin.
A frase captava sua atitude de "a América em primeiro lugar" e seu desprezo pela
campanha global para buscar combustíveis não fósseis e, além disso, tinha um tom
beligerante que casava com a mentalidade do Alasca, Estado da candidata.
Com o petróleo ainda jorrando no golfo do México, o slogan voltou para assombrar
os republicanos. O fatídico derrame está desacelerando as perfurações.
A escala da catástrofe não parou de crescer, mas suas verdadeiras dimensões
ainda são desconhecidas. O que já está claro é que, com estimados 12 mil a 25
mil barris diários jorrando do poço da BP rompido, este ficará na história como
o pior desastre petrolífero dos EUA.
O que ainda não está claro, mas é crítico, é como a Presidência de Barack Obama
será impactada pelo derrame e até que ponto este vai afetar a política
energética futura dos EUA.
Analogias vêm sendo jogadas na direção geral do desastre -descrito como o 11 de
Setembro de Obama, o Katrina de Obama ou a Guerra do Golfo de Obama.
A comparação com Katrina é a que vem ao caso. O furacão de 2005 em Nova Orleans
e a resposta altamente inepta de George W. Bush levou a população americana a
voltar-se contra o então presidente, de uma maneira que a Guerra do Iraque não
havia feito.
Obama, por sua vez, será julgado mais por como vai lidar com o petróleo que está
chegando às praias americanas que por sua guerra no Afeganistão.
O estrategista democrata James Carville tachou de "apática" sua reação inicial -
uma descrição razoavelmente justa. E o ex-secretário de Estado Colin Powell
exortou o presidente a usar de "força decisiva".
Mas o que isso quer dizer? Não é possível simplesmente jogar uma bomba atômica
sobre o buraco.
A BP tem experimentado diversos métodos, sem sucesso. É muito possível que o
petróleo só pare de jorrar em agosto, quando devem ser concluídos dois poços que
estão sendo perfurados para escoar o óleo. Logo, "força decisiva" é, na verdade,
um chamado por uma mudança de aparência.
Obama possui inúmeros dons, mas ele também é capaz de trair um distanciamento
estranho e reservado. Foi apenas nas últimas semanas da batalha em torno da
reforma da saúde, após um longo período em que pareceu distante, que ele revelou
a paixão que se esconde em seu interior -e venceu a batalha.
Uma mobilização semelhante é necessária agora para convencer os americanos de
que tudo que é concebível está sendo feito, que os responsáveis pelo desastre
vão pagar pelo estrago e que a campanha pela diversificação energética vai se
intensificar.
A suspensão de novos alvarás de perfurações marítimas, ordenada pelo presidente
em maio, foi anunciada apenas dois meses depois de Obama ter proposto a abertura
de grandes extensões da costa americana à exploração de petróleo e gás natural.
Essa decisão, que enfureceu ambientalistas, foi descrita por Obama em março como
"parte de uma estratégia mais ampla que nos levará de uma economia à base de
combustíveis fósseis e óleo estrangeiro a uma que depende mais de combustíveis
domésticos e energia limpa".
Tal estratégia foi adiada. Não está claro o que tomará seu lugar, mas, se as
imagens do golfo não conseguirem convencer os EUA de que a dependência nacional
do petróleo precisa mudar, então nada conseguirá. Nesse sentido, Obama tem agora
a oportunidade de redobrar sua campanha em favor das energias solar e eólica,
dos biocombustíveis e da construção de usinas nucleares.
Mas também é fato que o caminho que conduz às novas fontes energéticas é longo e
caro, que a tolerância dos americanos com preços mais altos da eletricidade está
em baixa, e que aprovar leis sobre energia e mudanças climáticas ainda depende
de concessões aos setores petrolífero e do carvão.
Se Obama deixar que a dificuldade leve à paralisia, ele se afogará no petróleo.
"Drill, Baby, Drill!" foi um slogan estúpido. Mas a plataforma Deepwater Horizon
tem revelado, até agora, um Obama carente de vontade forte -uma imagem que ele
não pode se dar ao luxo de manter.
Envie comentários para intelligence@nytimes.com
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