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Consequências da guerra
"Parece que os afegãos são criados por Deus para serem mortos por máquinas
humanas"
Humayoun Shiab/European Pressphoto Agency
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Um afegão lamenta nas ruínas a explosão que matou 41 pessoas em Candahar em 25 de agosto
Por TAIMOOR SHAH
CANDAHAR, Afeganistão
Essa cidade não é estranha a bombardeios. Já foi alvo de muitos durante tantos
anos de guerra. Mas o de 25 de agosto -o mais mortífero- talvez tenha feito mais
que qualquer outro para aprofundar a sensação de isolamento e levar a população
de Candahar ao desespero de pensar que ninguém tem o poder de conter a
destruição que os cerca.
O bombardeio produziu devastação em todo um quarteirão da cidade, dilacerando
lojas e residências e reduzindo muitos edifícios a montes de entulho. Em 26 de
agosto, os moradores buscaram no local e em hospitais parentes desaparecidos,
enquanto o número de mortos subia para 41, com mais de 60 feridos.
O comerciante Abdul Nabi, 45, só conseguiu encontrar 2 de seus 6 filhos nos
destroços. "Corri para o hospital e encontrei meus filhos em péssimo estado",
disse. "Um deles, de sete anos, só agora abriu os olhos. A quem vou me queixar?"
Sua frustração é terrivelmente comum no sul do Afeganistão, para onde o
presidente dos EUA, Barack Obama, enviou mais milhares de soldados americanos -
elevando o total no país para cerca de 63 mil- para combater a insurgência do
Taleban.
Os afegãos se sentem presos entre dois lados nessa guerra que se intensifica,
enquanto veem o poder de seu governo encolher. Um relatório de 31 de agosto do
general Stanley McChrystal, principal comandante americano no Afeganistão,
efetivamente prepara o caminho para um pedido de mais tropas. Como parte de uma
mudança estratégica geral, o general está enfatizando a proteção aos civis, mais
que apenas combater os rebeldes.
Mas, no dia da eleição, 20 de agosto, poucos na Província de Candahar puderam
votar em segurança, porque o Taleban disparava incessantemente foguetes contra
as cidades. Até a semana passada, os candidatos disputavam a contagem de votos.
Em 3 de setembro, o presidente Hamid Karzai tinha 47,3%, e seu principal rival, Abdullah
Abdullah, 32,6%. Mas as alegações de fraude se tornaram generalizadas.
Para a população local, não há autoridade a quem recorrer, nem uma maneira fácil
de compreender ou explicar o que parecem ser ataques cada vez mais mortíferos e
difusos.
"Não sabemos o que o Taleban quer do Afeganistão nem por que as forças da
coalizão estão aqui, mas as coisas estão piorando dia a dia", disse Niamatullah,
30, professor colegial que, como muitos afegãos, só usa um nome. "Parece que os
afegãos foram criados por Deus para serem mortos por máquinas humanas. Não nos
sentimos seguros em lugar nenhum, nem mesmo em casa."
Foi em casa que a explosão apanhou muitas das vítimas em 25 de agosto, enquanto
quebravam o jejum diurno do Ramadã, o que tornou o ataque ainda mais
desmoralizador.
A bomba explodiu com tal força que foi sentida a quilômetros da cidade. Não
apenas a escala foi incomum, mas também o fato de o ataque não parecer dirigido
à polícia ou às forças da coalizão, mas contra a população civil.
"Todo mundo estava ocupado com o fim do jejum; havia muita gente sentada no chão
diante de suas lojas", disse Gul Muhammad, 45, verdureiro. "Foi um momento
assustador. Pensei que tivesse perdido meus filhos, mas eles estão vivos.
Qualquer coisa pode acontecer aos afegãos", acrescentou. "Não estamos seguros.
Não temos valor. Não temos direito à vida."
Em 26 de agosto, o Taleban negou a responsabilidade pelo ataque, mas a sensação
entre os moradores era de que qualquer um a negaria, diante da revolta pública.
Poucos duvidam de que seja obra dos insurgentes.
Multidões se reuniram no hospital da cidade, e, no centro, os moradores atônitos
varriam o vidro quebrado e os detritos.
Um comerciante, Ahmadullah, 40, lamentou: "Estas eram as pessoas mais pobres do
Afeganistão. Eram todos trabalhadores ou diaristas". Ele disse que estava em uma
mesquita rezando quando a bomba explodiu. Matou dois de seus sobrinhos e feriu
dois primos, ele disse.
Pouco depois, ele apontou para um menino de seis anos que estava deitado
inconsciente com um ferimento no abdome. "O pai dele morreu. Quem vai cuidar
dele, sua mãe e sua irmã?"
O Afeganistão é um país que viveu três décadas de guerras, em uma sequência
paralisante. E a escala do ataque de 25 de agosto surpreendeu muitos ali.
O professor Niamatullah também lamentava as mortes. "Eu digo a todos os inimigos
do Afeganistão, sejam muçulmanos ou não, que um dia se reúnam e usem toda a sua
força contra o povo afegão e nos matem de uma vez", ele disse. "Seria bom para
todos os afegãos -eles estão nos matando dia a dia, o que é doloroso. Matem-nos
de uma vez só."
Colaboraram Sharon Otterman, em Nova York, e Mark McDonald, em Hong Kong
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