São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Kindle faz best-sellers sem de fato vendê-los


E-books grátis são uma forma de atrair clientes pagantes


Por MOTOKO RICH
Veja esta charada: Como você faz seu livro ser um campeão de vendas no Kindle? Resposta: Dê exemplares grátis.
É isso mesmo: mais da metade dos e-books best-sellers no Kindle, o leitor de livros eletrônicos da Amazon.com, estão disponíveis gratuitamente.
Embora alguns títulos sejam versões digitais de livros em domínio público -como "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen-, muitos são de autores que ainda tentam ganhar a vida com seu trabalho.
Em meados de janeiro, por exemplo, o primeiro e segundo lugares na lista de best-sellers do Kindle eram ocupados por "Cape Refuge" e "Southern Storm", romances de Terri Blackstock, uma autora de livros policiais cristãos. O preço da Kindle: US$ 0. Até o fim de janeiro, a editora de Blackstock, a Zondervan, uma divisão da HarperCollins Publishers, ofereceu aos leitores a oportunidade de baixar os livros de graça para o Kindle ou em aplicativos Kindle para iPhone ou Windows.
Editoras como Harlequin, Random House e Scholastic estão oferecendo versões grátis de livros digitais para Amazon, Barnes & Noble e outras livrarias eletrônicas, assim como em sites de autores, de forma a permitir que os leitores experimentem a obra de escritores desconhecidos.
"Dar amostras é uma ótima maneira de atrair leitores e encorajá-los a comprar mais", disse Suzanne Murphy, editora da Scholastic Trade Publishing, que durante três semanas ofereceu downloads grátis de "Suite Scarlett", romance para jovens adultos de Maureen Johnson, na esperança de aumentar o interesse pelo próximo livro da série, "Scarlett Fever", que foi publicado em capa dura no dia 1º.
Os brindes digitais surgem enquanto as editoras entram em pânico sobre a pressão dos preços dos e-books em geral. A Amazon e outras livrarias on-line definiram US$ 9,99 como o preço geral para novos lançamentos e best-sellers de e-books, e as editoras temem que esse preço crie expectativas entre os consumidores de que os livros novos em papel não valem mais, por exemplo, US$ 25 (o preço médio de um lançamento em capa dura), ou mesmo US$ 13 (preço padrão para brochuras).
Algumas editoras tentaram assumir o controle dos preços retardando a publicação de alguns e-books por meses depois do lançamento dos livros em papel.
Executivos do ramo dizem que, diante dessas ações, oferecer conteúdo grátis é uma hipocrisia.
"Em um momento em que estamos resistindo ao preço de US$ 9,99 dos e-books, é ilógico dar livros de graça", disse David Young, executivo-chefe da Hachette Book Group, editora de James Patterson e Stephenie Meyer.
Mas algumas editoras veem os livros digitais gratuitos como meramente promocionais, como os exemplares que distribuem para livrarias e resenhistas de forma a chamar atenção a um autor. "A maioria das pessoas compra [livros] porque alguém recomendou o título", disse Steve Sammons, vice-presidente da Zondervan.
Nem a Amazon nem outras livrarias eletrônicas ganham dinheiro com esses brindes. Mas é uma maneira de atrair clientes para seus equipamentos de leitura eletrônica. Os e-books grátis também são uma maneira de distinguir um autor menos conhecido dos campeões de venda. "Você precisa mostrar as coisas às pessoas, porque há muita concorrência", disse Johnson, autora de "Suite Scarlett" e de sete outros livros.
A maioria dos brindes é de títulos mais antigos de um autor, com a ideia de que lê-los trará novos admiradores que passarão a comprar os livros mais recentes.
Como os e-books ainda representam cerca de 5% do mercado total de livros, os dados sobre os efeitos dos brindes digitais ainda são inconclusivos. Brian O'Leary, diretor da Magellan Media Consulting Partners, que assessora as editoras, disse que, enquanto parece que os downloads grátis causam um aumento das vendas de livros reais, há um risco de que a leitura grátis possa eventualmente "suplantar a leitura paga".
De fato, disse Brian Murray, executivo chefe da HarperCollins, "grátis não é um modelo empresarial". Charlie Huston, autor da trilogia de policiais "Henry Thompson" e de uma série de livros sobre Joe Pitt, um detetive vampiro, disse que "a parte de mim que cresceu em um ambiente de sindicato" ainda sente como se estivesse ocasionalmente minando a si próprio ao aprovar os brindes digitais de sua editora, a Random House.
Mas, ele disse, "acho que minha atitude neste momento é que eu posso ter medo do futuro ou posso tentar agressivamente abraçá-lo de alguma forma".
E, em alguns casos, os e-books grátis funcionam. Pamela Deron, 29, assistente administrativa que mora na Flórida, disse que baixou uma edição grátis de "Already Dead", o primeiro da série "Joe Pitt", em seu Kindle no mês passado.
"Há tantos autores por aí que eles caem na obscuridade", escreveu Deron em um e-mail. "Ninguém os conhece, e alguns leitores hesitam em comprar um autor de quem nunca ouviram falar. Os livros grátis permitem que você experimente o autor como um todo, e não apenas um pedacinho."
Ela acrescentou: "US$ 50 depois, eu tenho a série 'Joe Pitt' inteira".


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