São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Laço familiar conduz lideranças femininas na Ásia

Por SETH MYDANS

BANCOC - "Não sou uma primeira-ministra mulher", costumava dizer Indira Gandhi durante os muitos anos em que liderou a Índia. "Sou primeiro-ministro."
Na Ásia, a dúvida é se a figura de uma primeira-ministra mulher existe de fato. Mais mulheres alcançaram o topo do poder no continente nos últimos anos que em qualquer outra parte do mundo, e o exemplo delas mostra que, de modo geral, pode ser difícil distinguir as líderes mulheres dos líderes homens. Em vez de conquistar seus cargos de forma independente, quase todas ascenderam ao poder graças a suas conexões familiares.
"Se você olhar o histórico, não verá grande diferença", disse Paula Newberg, diretora do Instituto para o Estudo da Diplomacia, na Universidade Georgetown (EUA). "Estamos falando de algo mais simbólico do que substancial."
Sirimavo Bandaranaike, do Sri Lanka, que em 1960 tornou-se a primeira chefe de Estado mulher eleita no mundo, foi seguida por líderes mulheres na Índia, no Paquistão e na Indonésia, por duas cada em Bangladesh e nas Filipinas e por sua própria filha, no Sri Lanka.
Hoje duas mulheres comandam países asiáticos, e elas são conhecidas por sua combatividade e intransigência: a presidente filipina Gloria Macapagal Arroyo e a premiê de Bangladesh, Sheikh Hasina.
"Em vista dos estereótipos difundidos envolvendo o islã, o que mais surpreende é a liderança nos Estados de maioria muçulmana no sudeste e sul da Ásia", diz um relatório escrito em 2005 para a Fundação para a Ciência alemã, "Dinastias e Liderança Feminina na Ásia". "Com a exceção de Afeganistão e Brunei, mulheres lideram ou já lideraram governos ou grupos oposicionistas em todos os países predominantemente islâmicos da região (Bangladesh, Indonésia, Malásia e Paquistão)."
Mas, segundo especialistas, essas líderes têm feito pouco para promover os direitos femininos; com poucas exceções, não governaram de modo diferente dos homens nem abriram um caminho ao topo que tenha sido seguido por outras mulheres.
"Minha suposição era que as mulheres talvez tivessem uma perspectiva diferente", disse Guida M. Jackson, autora de "Women Who Ruled" e "Women Rulers Throughout the Ages", que tratam do histórico mundial das governantes.
"Procurei sinais de um viés contra as guerras." Mas o que encontrou, disse ela, foi que as mulheres no governo "eram tão egomaníacas, em muitos casos, ou tão focadas em conservar seu poder, e que se danem os outros, quanto quaisquer outros governantes".
E a ascensão de mulheres não parece refletir nenhuma mudança na natureza patriarcal das sociedades asiáticas. "Não há dúvida alguma de que a ascensão de líderes mulheres está ligada ao fato de elas serem integrantes de famílias de destaque: todas são filhas, mulheres ou viúvas de ex-chefes de governo ou de líderes oposicionistas", segundo o relatório alemão.
Uma exceção é Han Myung-sook, que se tornou primeira-ministra da Coreia do Sul entre 2006 e 2007 sem a ajuda de conexões familiares. Duas das líderes políticas mulheres falaram francamente sobre seus papéis. "Conheço minhas limitações e não gosto de política", disse Corazón Aquino, que se tornou presidente das Filipinas em 1986, após o assassinato de seu marido, o oposicionista Benigno Aquino. "Só me envolvi na política devido a meu marido."
Megawati Sukarnoputri, filha do fundador da Indonésia, Sukarno, usou seu estilo passivo como trunfo em sua campanha, dizendo: "O que há de mal em ser dona de casa?".
Isso não significa que o papel das mulheres não tenha mudado na Ásia. Em muitos países elas estão avançando como executivas de empresas, políticas e diplomatas.
Mas parece ainda haver um telhado de vidro que as impede de alcançar o topo apenas por seus méritos, além de um contexto político que pode limitar sua margem de manobra como líderes.
"Em vez de influir sobre o ambiente, precisamos nos adaptar ao ambiente dos homens", disse Dewi Fortuna Anuar, diretora do Centro Habibie, instituto independente de política indonésio. "É preciso mais que só uma mulher atuando. Se você é uma pessoa apenas, e todas as outras são homens, é difícil."


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