São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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Só o crescimento vence a crise

Redução prudente nos gastos pode resultar em riqueza nova

Contra a crise da dívida, podar para promover o crescimento


Por CATHERINE RAMPELL
Uma solução feliz para os problemas de dívida que estão causando sofrimento constante a tantos países existe -pelo menos, na teoria. Ela se chama crescimento econômico. Não há necessidade de elevar impostos. Apenas de levar a economia a crescer como crescia.
Boa sorte com isso. O crescimento é algo que anda em falta hoje em dia.
"O problema fundamental é que os Estados Unidos estão seguindo um caminho fiscal insustentável", diz Dean Maki, economista-chefe para os EUA na Barclays Capital. "Partindo disso, nenhuma das opções é fácil." As opções mais evidentes, diz Maki, são redução dolorosa nos gastos, aumento impalatável dos impostos ou calote. Nada disso seria necessário se pudéssemos de fato restaurar o crescimento econômico.
Os cidadãos enriqueceriam e pagariam mais impostos. Pronto! A dívida seria paga sem sofrimento.
Antes de sua economia desabar, a Irlanda era estrela nessa espécie de redução da dívida. Na década de 1980, a dívida irlandesa era maior do que a economia do país. Ao longo das duas décadas seguintes, porém, essa dívida foi reduzida para cerca de um quarto do PIB, em grande medida porque a economia estava muito forte.
Mas, se é preciso reduzir os gastos, isso deve ser feito considerando o crescimento futuro. O paradigma da consolidação fiscal bem pensada, feita com o crescimento em vista, é o Canadá, diz Paolo Mauro, chefe de divisão no Fundo Monetário Internacional e editor de "Chipping Away at Public Debt".
Mauro diz que, em 1994, "em lugar de simplesmente efetuar cortes em todos os setores", o Canadá fez uma revisão abrangente, em estilo McKinsey, dos gastos federais para determinar "em quais áreas a relação custo/benefício dos seus gastos era positiva".
Subsequentemente, estrategistas foram paulatinamente reduzindo a dívida do Canadá, que passou de uma das maiores entre os membros do Grupo dos Sete para a menor. Como o Canadá enxugou a gordura federal de forma prudente, reduziu sua dívida sem causar grandes danos ao crescimento.
Para os EUA, a solução, no passado, tem sido simplesmente o crescimento. Depois da Segunda Guerra Mundial, a dívida federal bruta chegou a 122% do PIB, a mais alta já registrada. Ao longo dos 40 anos seguintes, porém, caiu para cerca de 33%. Isso não se deveu a algum programa de austeridade -aconteceu porque a economia americana enriqueceu.
O mesmo ocorreu na década de 1990, que começou com deficits e terminou com superavits. O ex-presidente Bill Clinton é saudado como responsável por essa reviravolta, na medida em que elevou impostos. Mas a maioria dos economistas a atribui principalmente ao crescimento acelerado.
Contudo, a estrutura dos gastos federais dos EUA é diferente hoje do que era nas décadas do pós-guerra, por exemplo. Em 1950, os EUA não tinham Medicare. A população era mais jovem e não vivia por tanto tempo.
Hoje, os índices de crescimento teriam que ser fenomenais para acompanhar os gastos. E é pouco provável que isso aconteça no curto prazo.
Geralmente, após uma recessão, o crescimento se recupera rapidamente, e a economia compensa pelo terreno perdido. Não é o que vem acontecendo, pelo menos até agora. Nos 60 anos que antecederam a Grande Depressão, a economia americana se expandiu em índice médio anual de 3,5%. No segundo trimestre deste ano, seu índice de crescimento foi menos que a metade disso.
Essa fase de estagnação não vai durar para sempre, mas pode ser um indício de que o crescimento econômico por vir será mais lento do que era antes da recessão, pelas mesmas razões pelas quais a dívida vem crescendo tão rapidamente: o envelhecimento da população, por exemplo.
Medidas de austeridade quase certamente desacelerariam o crescimento ainda mais.
Os economistas concordam que, no longo prazo, a disciplina fiscal faz bem para o crescimento. Quando o orçamento está em ordem, o país não é onerado pelo pagamento de benefícios sociais crescentes. As empresas podem preocupar-se menos com a possibilidade de serem surpreendidas com aumentos de impostos, por exemplo, e passam a contratar mais funcionários novos. Uma dívida mais administrável também ajuda a manter os juros mais baixos, o que, de modo geral, é benéfico para o crescimento. O que é bom para o crescimento geralmente é bom para a dívida.
O problema é que reduzir gastos ou elevar impostos agora apenas prejudicaria uma economia já fragilizada. Outra recessão não apenas seria dolorosa, mas, na realidade, agravaria o problema da dívida por reduzir a receita tributária disponível.
Considere o seguinte: dos US$ 12,7 trilhões em dívida adicional acumulada pelos EUA nos últimos dez anos, mais ou menos um terço veio do enfraquecimento da economia.
William Easterly, economista do desenvolvimento na Universidade de Nova York, observa que os países que empreendem a consolidação fiscal no meio de uma crise podem acabar pagando mais ainda, mais tarde.
Por exemplo: durante as crises de dívida dos anos 1980 na América Latina, muitos países da região miraram alvos fáceis para reduzir gastos, como as telecomunicações e os transportes. Mais tarde, essas decisões prejudicaram a capacidade desses países de funcionar e de recolher a receita tributária de que precisavam para cumprir suas obrigações com seus credores. Nos anos 1980, o Reino Unido também reduziu seus gastos com manutenção e operação de transportes, fato que levou a reparos muito mais caros das rodovias e outras infraestruturas mais tarde.
Os estrategistas americanos poderiam aprender alguma coisa com o trabalho de poda paciente, sem histeria, feito pelo Canadá.


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