São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Mercado high-tech fica na berlinda


Vêm aí a TV on-line, laptops por US$ 200 e softwares gratuitos


Por BRAD STONE e ASHLEE VANCE

SAN FRANCISCO - A crise global está prejudicando profundamente o setor de tecnologia. Mas, enquanto as empresas dominantes do mercado high-tech procuram emergir da recessão, elas podem se descobrir culpando não só Wall Street, mas pessoas como David Title, 35.
Gerente de novas mídias de uma produtora de cinema de Nova York, Title cancelou sua assinatura de TV a cabo e passou a assistir à TV sobretudo on-line -de graça. Recentemente, ao comprar um laptop novo para sua namorada, ele evitou computadores caros e totalmente equipados, escolhendo em lugar disso um laptop Asus EeePC de US$ 200, também conhecido como netbook, um aparelho mínimo e enxuto.
"Há alternativas de baixo custo ou gratuitas que são boas para o usuário e suficientemente confiáveis", disse Title. O medo agora é que empresas e consumidores que seguem o mesmo raciocínio possam enfraquecer os setores mais lucrativos da indústria de informática -prejudicando algumas tecnologias e empresas, mas conferindo novo impulso a outras.
Isso já aconteceu antes. O estouro da bolha da internet, no início da década, arrasou empresas grandes como Sun Microsystems e America Online, mas criou condições para o crescimento de uma nova geração de potências na web, como o Google, e outras empresas de softwares na internet, como Salesforce.com, fundadas sobre a premissa de mudar o status quo.
As recessões "podem levar as pessoas a tentar fazer o uso mais eficaz de seu dinheiro", disse Craig Barrett, presidente prestes a aposentar-se da Intel, que já assistiu a dez quedas desse tipo em sua longa carreira. "Nos períodos bons, você tende a se descuidar ou não dar tanta atenção à eficiência", disse. Mas, nos períodos difíceis, você é obrigado a tentar encontrar soluções.
Nesse caso, quais empresas e tecnologias estão em alta ou em baixa? Depois de duas décadas de hegemonia, a valiosa franquia Windows, da Microsoft, parece estar vulnerável. No último trimestre de 2008, o sistema operacional caiu pela primeira vez em sua história, e a Microsoft anunciou a demissão de 5.000 funcionários. A popularidade do sistema operacional gratuito Linux forçou a Microsoft a reduzir seus preços. Os processadores de alta potência da Intel também estão ameaçados: sua receita caiu 23% no último trimestre.
Enquanto isso, estão em alta tecnologias experimentais, mas de custo mais baixo, como netbooks, serviços de software baseados na internet (conhecidos como "cloud computing", ou computação nas nuvens) e virtualização, que permitem às empresas operar mais softwares em cada servidor físico.
Para a indústria de PCs, o netbook é o único ponto positivo no horizonte. Analistas na firma de pesquisas Gartner disseram que as vendas de netbooks subiram para 4,4 milhões de unidades no terceiro trimestre de 2008, contra 500 mil unidades no primeiro trimestre do ano passado.
Duas gigantes, a Hewlett-Packard e a Dell, perderam a primeira onda dos notebooks, permitindo que a Acer, de Taiwan, aumentasse sua participação no mercado. Com um crescimento de 55% em suas vendas, a Acer expulsou a Apple do terceiro lugar, atrás da HP e da Dell. Agora, estas duas últimas estão produzindo netbooks.
"O tempo do laptop 'Rolls-Royce' e do computador de primeira linha pode ainda não ter acabado por completo", opinou Charles King, analista independente da indústria de informática na Califórnia. "Mas não há dúvida de que o público para isso está cada vez menor."
As empresas também começam a analisar do que podem abrir mão e o que podem mudar, e suas escolhas podem modificar a paisagem da computação empresarial.
Na esperança de economizar dinheiro, a Arista Networks, empresa lançada recentemente na Califórnia, tem boa parte de seus processos tecnológicos internos on-line, ou "nas nuvens". Em lugar de comprar seus próprios sistemas de hardware e software de fabricantes como Microsoft e Oracle, ela optou por serviços de e-mail e do Google e de softwares de vendas e manufatura obtidos on-line. A executiva-chefe da Arista, Jayshree Ullal, diz que a empresa está gastando um quinto do que gastaria com tecnologia tradicional. "Acho que 80% das pequenas e médias novas empresas de alta tecnologia estão fazendo como nós", disse ela.
O Linux vem sendo adotado também numa nova geração de aparelhos mais inteligentes -telefones, TVs ou decodificadores de TV a cabo- que capturaram a imaginação dos criadores de softwares. Seus novos produtos sem dúvida desafiarão o status quo.
"Empresas como Intel, Qualcomm e Texas Instruments, que fabricam chips para esses aparelhos, estão rapidamente contratando talentos da Linux", disse Jim Zemlin, diretor da Fundação Linux, organização sem fins lucrativos. "Elas sabem que o futuro está nos netbooks e aparelhos móveis com acesso à internet."


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