São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Obras de arte viram garantia de empréstimos

Por ALLEN SALKIN

No ano passado, a fotógrafa Annie Leibovitz contraiu um empréstimo de US$ 5 milhões de uma empresa chamada Art Capital Group. Em dezembro, emprestou mais US$ 10,5 milhões da mesma companhia. Como garantia, ela usou, entre outros bens, imóveis em Manhattan, uma casa de campo e uma outra coisa: os direitos sobre todas as suas fotos.
Em outras palavras, de acordo com documentos relativos aos empréstimos registrados em Nova York, uma das fotógrafas mais bem-sucedidas do mundo basicamente deu como garantia, ou empenhou, cada clique que fez ou fará enquanto os empréstimos não forem saldados.
Pessoas que conhecem Leibovitz disseram que ela usou o dinheiro para saldar hipotecas e resolver outros problemas financeiros. E ela não é a única a fazer negócios com a Art Capital e empresas semelhantes, concessoras de crédito.
Num momento em que os portfólios de ações perdem valor em ritmo vertiginoso e muitas famílias, mesmo as ricas, não têm mais ações para dar como garantia de empréstimos, cada vez mais donos de obras de arte estão percebendo que uma tela de um grande mestre ou uma fotografia de valor, quando usados como garantia, podem valer dinheiro vivo muito necessário.
"É tudo feito com muita discrição", disse Ian Peck, coproprietário da Art Capital.
Essa parte pouco conhecida do setor da arte é pouco regulamentada e altamente litigiosa. Mas esse fato não desanima clientes que incluem colecionadores ricos, como Veronica Hearst, galerias de arte e artistas de destaque, incluindo Annie Leibovitz e Julian Schnabel.
À primeira vista, a sede da Art Capital, no antigo edifício da Sotheby's na avenida Madison, parece uma galeria de arte. Suas paredes brancas ostentam duas telas de Warhol, dois retratos de imperadores romanos pintados por Rubens e um nu cor-de-rosa do pintor mexicano contemporâneo Victor Rodriguez. Uma escultura de um fauno de Rembrandt Bugatti ocupa o peitoril de uma janela numa sala de conferências onde se discutem transações.
Mas seria mais preciso descrever esse espaço arejado como algo bem menos elegante: uma casa de penhores.
A Art Capital concede empréstimos de US$ 500 mil ou mais a juros de 6% a 16%. Quem deixa de pagar pode perder seu Rubens. Várias das obras expostas no escritório da empresa foram postas à venda depois de seus proprietários terem deixado de pagar sua dívida.
A empresa espera ganhar cerca de US$ 120 milhões em 2009 com empréstimos tendo obras de arte como garantia. Em 2008, ganhou US$ 80 milhões.
A ArtLoan, empresa semelhante de San Francisco, é regida pelas leis da Califórnia relativas à penhora. Ela abriu em 2004 e de um ano para cá teve crescimento "exponencial", disse um de seus proprietários, Ray Parker Gaylord, apesar de cobrar juros de entre 18% e 24%.
"Essa é uma parte muito áspera desse setor", disse Mark Porter, que chefia as operações nos EUA da casa de leilões Christie's. A Christie's e a Sotheby's também oferecem empréstimos com obras de arte como garantia, mas focam empréstimos temporários a clientes que já prometeram colocar suas obras à venda nos leilões das casas.
"Durante anos, uma das razões pelas quais este não era um grande negócio era que todo o mundo recebia dinheiro de outras fontes", disse Porter. "O crédito era fácil em todo lugar. Mas agora as pessoas estão procurando todos os ativos que possuem para obter dinheiro."
Citando o sigilo em relação a seus clientes, a Art Capital se negou a comentar empréstimos específicos, mas um de seus proprietários, Baird Ryan, explicou que, porque sua firma entende o mercado de arte mais do que os bancos comuns, os artistas podem ser clientes atraentes.
Para Gerald Peters, marchand de Santa Fé, Novo México, que diz ter comprado telas da Art Capital, os ocasionais problemas legais não surpreendem, em vista da natureza do negócio. "A empresa tem que ser intransigente", disse ele. "Mas o serviço que presta é real, e há demanda por ele."
Peck comentou que a grande maioria dos clientes da Art Capital salda suas dívidas e está satisfeita com os serviços da empresa. "Mas a natureza deste negócio é tal que, de vez em quando, você se vê tendo que recorrer à justiça para fazer valer seus direitos", disse ele.


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