São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para imigrantes, escolas unem dois mundos

Por SARA RIMER

MINNEAPOLIS - A imigrante somali Fartun Warsame pensou que estivesse sendo uma boa mãe quando transferiu seus cinco filhos para uma ótima escola primária em um subúrbio afluente de Minneapolis, no Estado de Minnesota.
"Eles mudaram imediatamente", disse Warsame sobre seus filhos. "Queriam usar shorts. Diziam: 'Compre isto para mim'. Eu disse: 'De onde vocês tiraram essa ideia de que podem me controlar?'"
Seus filhos lhe informaram que as coisas eram assim nos EUA. Mas não na casa dessa mãe somali. Ela logo os trouxe de volta para a cidade, para a Escola Primária Internacional, uma "charter school" [escolas públicas que têm um regulamento mais brando que os das escolas tradicionais] com cerca de 560 alunos no centro de Minneapolis, fundada por líderes da grande comunidade da África Oriental na cidade. O tempo extra de transporte compensou o retorno à antiga ordem: cinco filhos bem-comportados e uma mãe todo-poderosa.
Essas escolas, financiadas com dinheiro público mas dirigidas independentemente, foram concebidas como uma maneira de melhorar o desempenho acadêmico. Mas, para as famílias de imigrantes, elas também viraram refúgios, onde seus filhos ficam protegidos da cultura jovem americana que permeia as grandes escolas distritais.
O currículo na Escola Primária Internacional Twin Cities é semelhante ao de outras escolas públicas com altas metas acadêmicas. Mas, na Twin Cities, as garotas dizem que podem usar lenços na cabeça à vontade sem serem provocadas, o refeitório serve comida de acordo com as exigências dietéticas muçulmanas, e em todas as classes há assistentes de ensino da África Oriental que entendem as necessidades dos alunos, alguns dos quais passaram anos em campos de refugiados. Os alunos da Twin Cities vêm de Etiópia, Quênia, Somália e Sudão, e uma pequena parcela, do Oriente Médio.
Em meio à onda de imigração que tem reformulado Minnesota há mais de 30 anos, as escolas internacionais estão entre 30 das 138 "charter schools" do Estado dedicadas a estudantes de grupos étnicos ou imigrantes específicos. Ao visitar meia dúzia dessas escolas, ouvir professores, administradores e pais -imigrantes somalis relativamente novos em Minnesota, assim como os hmongs [etnia do Sudeste Asiático] e os latinos que estão no Estado há décadas- compreende-se que as aspirações educacionais de Warsame para seus filhos, e seus temores, são universais.
"A boa notícia é que as crianças imigrantes estão aprendendo inglês melhor e mais depressa do que nunca na história americana", disse Marcelo Suárez-Orozco, codiretor de estudos de imigração na Universidade de Nova York e coautor de "Learning a New Land - Immigrant Students in American Society" (Harvard Press, 2008) [Aprendendo uma nova terra - alunos imigrantes na sociedade americana]. "Mas eles estão assimilando uma sociedade que seus pais consideram muito ameaçadora e assustadora. É antiautoritária, antiestudos. É materialista."
Críticos afirmam que as escolas especiais vão contra a antiga ideia das escolas públicas como a instituição básica do chamado "caldo cultural", a fusão de povos que forja uma identidade comum americana entre imigrantes de muitos países.
Mas Suárez-Orozco diz que, na realidade, a maioria dos novos imigrantes se isola nas escolas públicas e que um grande número deles se aliena com o tempo e não consegue se formar.
Ali Somo, 70, pai de três filhos nas escolas internacionais, disse: "Trazemos nossos filhos para cá porque queremos que fiquem perto de nós, para que não se percam". Em uma manhã de um dia de semana, Somo, Warsame e mais um grupo de pais se apertavam em uma reunião na biblioteca da escola.
Perder-se nos EUA, explicou Somo, significa perder sua cultura, sua língua, sua identidade. Significa agir como os adolescentes que os pais veem nas ruas -vestindo calças largas, fumando, usando drogas, desrespeitando os mais velhos.
"Estou nos EUA e observei isso", afirmou Somo. "Vi crianças usando drogas."
Os pais ao redor assentiram.
Mas alguns adolescentes se queixam de que seus pais se preocupam demais.
"Posso contar pelo menos 200 sermões que ouvi de meus pais sobre a cultura americana", disse Omar Ahmed, 14, da oitava série. "Toda vez que minha mãe vê algo ruim sobre adolescentes no noticiário, é mais um sermão sobre o assunto."


Texto Anterior: Ensaio: Ignore o medo e mantenha sua carreira no rumo desejado

Próximo Texto: Novas bibliotecárias veem além de estantes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.