São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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LENTE

TOM BRADY

Prepare-se para os anos do bis

Numa cena de "Os Sopranos", popular série de TV sobre a Máfia, um gângster relutante diz ao chefão Tony Soprano que herdou US$ 2 milhões e que está pensando em se aposentar e se mudar com a esposa para a Flórida.
"O que você é, um jogador de hóquei?", brinca Tony. Ele lembra o amigo sobre ter feito um juramento, e que a aposentadoria nesse campo de trabalho não é uma opção.
Acontece que o bandido também era informante do FBI e acaba se matando, desesperado.
Felizmente, a maioria tem melhores opções de aposentadoria. Mas os sistemas previdenciários estão enfrentando a dura realidade do envelhecimento populacional, especialmente no Japão e na Europa Ocidental, onde o número de trabalhadores que sustentam os pensionistas vai cair vertiginosamente nas próximas décadas.
Até mesmo a China, a superpotência emergente do mundo, vê alguns números desfavoráveis, uma consequência não intencional da sua política do filho único.
A força de trabalho da China, que alimentou o boom econômico ao proporcionar mão de obra barata para suas minas, fábricas e canteiros de obras, parou de crescer, relatou o jornal "The New York Times".
Os demógrafos dizem que ela vai começar a encolher dentro de apenas cinco anos, enquanto a população envelhece rapidamente. Especialistas dizem, portanto, que a China vai se tornar o primeiro país importante a envelhecer antes de se encontrar totalmente desenvolvido economicamente.
"Há tremendas crises demográficas por ocorrerem, sem precedentes na demografia chinesa", disse ao "Times" Wang Feng, diretor do Centro Tsinghua para Políticas Públicas, em Pequim.
Uma das soluções para os problemas previdenciários do mundo pode ser repensar o processo de envelhecimento. Em seu livro "The Big Shift" (a grande mudança), Marc Freedman considera que o período após a meia-idade e antes que a velhice tenha efeito sobre nossas capacidades físicas -aproximadamente dos 60 aos 75 anos- está mudando radicalmente, noticiou o "Times".
Freedman chama essa parte da vida de "fase do bis" e diz que o importante nesse período não é "se aferrar à juventude perdida", mas aplicar os talentos desenvolvidos ao longo da vida para algo com "propósito, contribuição e compromisso, especialmente para o bem-estar das gerações futuras", segundo publicou o "Times".
No livro, Freedman conta o caso de Gary Maxworthy, que após enviuvar e passar décadas no ramo alimentício entrou para o Vista, um programa nacional de combate à pobreza nos EUA.
Num centro de distribuição gratuita de alimentos em San Francisco, Maxworthy lançou um programa chamado "Da Fazenda à Família", que distribui produtos ligeiramente danificados, não aptos para supermercados ou restaurantes, a famílias carentes da Califórnia. Foi a experiência acumulada de Maxworthy, escreveu Freedman, que lhe permitiu criar algo que ajudou tanta gente a melhorar sua dieta.
Além disso, encontrar novos desafios no fim da vida é um modo de prolongá-la.
Howard Friedman, coautor de "The Longevity Project" (o projeto longevidade), um estudo sobre o bem-estar que acompanhou pessoas por oito décadas, disse que a ideia de "pegar leve" é superestimada. "Há um equívoco sobre o estresse", disse ele ao "Times". "Um trabalho duro que também seja estressante pode ser associado à longevidade; desafios, mesmo que estressantes, são também um elo" para uma vida longa.
Afinal, ele disse, "se as pessoas estavam envolvidas, empenhadas, tendo sucesso e sendo responsáveis -não importa em qual campo estivessem -, tinham maior propensão a viverem mais".

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