São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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Na Turquia, dinheiro fácil levanta temores de outra crise

É fácil conseguir empréstimos em Istambul

Por LANDON THOMAS Jr.

ISTAMBUL - A pujante economia da Turquia está pronta para despencar? É o que parece.
O sinal mais marcante de que a economia pode estar superaquecida são os atos dos agressivos bancos turcos. Eles encontraram maneira criativa de financiar a sede de consumo, oferecendo rápida aprovação para empréstimos através de mensagens de texto ou nos caixas automáticos.
Analistas dizem que o crescimento explosivo dos empréstimos ao consumidor alimentou expansão preocupante do deficit de conta corrente do país, estimado em 8% do PIB deste ano.
"Estamos novamente produzindo e consumindo além de nossa capacidade", disse Atilla Yesilada, economista da Istanbul Analytics que sobreviveu a duas quebras da Turquia, em 1994 e 2001. "Estamos financiando nosso crescimento através do crédito estrangeiro, que está ficando mais caro. Em algum momento, a vida o alcança e você cai."
Mais do que qualquer outra economia emergente, a Turquia esteve em uma viagem de montanha-russa nas últimas décadas, em que o crescimento frenético foi quase inevitavelmente seguido de uma dura queda.
Mas, desta vez, será diferente, promete o governo popular do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que deverá conseguir um terceiro mandato em junho graças à robustez da economia.
Nos dez anos de expansão, governo e líderes empresariais dizem que o país superou síndrome de sucesso e queda, e que os criadores de políticas estão bem equipados para um pouso suave.
Desde a repressão do governo aos empréstimos exagerados em cartão de crédito oferecidos na última década, os empréstimos ao consumidor se tornaram o veículo preferido para financiar a demanda interna.
Segundo pesquisa do banco de investimentos Standard Unlu, de Istambul, os empréstimos pessoais cresceram em média anual de 61% entre 2005 e 2008 e registraram um ganho de 42% no ano passado.
Não é surpreendente que esses empréstimos tenham virado tão populares. Depois que um consumidor recebe mensagem de texto do banco informando que se qualifica ou um aviso de que pode pegar o dinheiro no caixa automático, tudo o que ele precisa fazer é visitar a agência bancária. Os bancos insistem que estão mantendo uma vigilância estreita do crédito. Executivos indicam que depois da crise de 2001 -quando dezenas de bancos faliram- o governo impôs regras rígidas de capital e empréstimos que protegeram os bancos dos piores efeitos da recessão de 2009, quando a economia caiu 4,8%.
Com Erdogan, a Turquia gerou um PIB de cerca de US$ 730 bilhões no ano passado, tornando-se a economia número 17 do mundo. Enquanto o padrão de vida atualmente é menos de um terço do de vizinhos estagnados e soterrados em dívidas no Mediterrâneo, como Grécia e Itália, a economia turca cresce cerca de 9% ao ano -mais ou menos o índice da China. E a Turquia tem um índice de inflação administrável de 8% e um deficit orçamentário que, neste ano, deverá ser de pouco mais de 2% do PIB.
É claro que o governo de Erdogan não ignorou a possibilidade de que a Turquia, ao permitir que seu deficit de conta corrente inflasse para os níveis atuais, superasse o limite de velocidade econômica autoimposto pelo país. A principal autoridade econômica da Turquia, Ali Babacan, advertiu que o governo não queria tomar medidas no "estilo policial" se os bancos não reagissem às medidas mais suaves -comentário que repercutiu em um momento em que jornalistas foram detidos por escrever artigos críticos ao Estado. Como se esperava, os bancos encareceram o empréstimo ao consumidor, aumentando os juros. Mas, com o acesso aos empréstimos pessoais mais fáceis do que nunca, há poucos sinais de que os turcos estejam contendo seus gastos.
Na verdade, há uma paixão por consumo e investimentos de todo tipo aqui -como ficou evidente quando Erdogan comemorou a abertura do edifício mais alto da Turquia, o Sapphire, em uma cerimônia em março.


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