São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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ANNE LAUVERGEON

Executiva Anne combate preconceito na França

Por STEVEN ERLANGER

PARIS - Anne Lauvergeon é uma das mais proeminentes executivas da Europa e dona de uma das cabeças mais independentes -talvez até demais para a machista elite francesa. Ela está lutando para manter seu cargo como chefe de uma das maiores companhias nucleares do país, a Areva, de capital majoritariamente estatal, e, como de hábito por aqui, essa batalha é tanto pessoal quanto profissional.
Ao mesmo tempo, o setor nuclear que ela representa enfrenta seu maior desafio desde o derretimento da usina de Three Mile Island, e ninguém sabe como a tragédia que se desenrola no Japão vai afetar seu futuro.
Conhecida como Anne, a Atômica, Lauvergeon tem visão ambiciosa e global para a Areva, que ela criou em 2001 com a fusão de outras empresas francesas. A Areva está envolvida em quase todos os aspectos da energia nuclear, da mineração e da engenharia à construção e reciclagem. Lauvergeon, 51, procura investidores e clientes externos, enquanto outros querem impor um controle mais centralizado à Areva e desejam vê-la pelas costas.
Ela costuma aparecer nas listas de mulheres mais influentes do mundo da "Forbes". "É uma vantagem, mas também um inconveniente", disse ela. "É estranho, porque ser mulher é globalmente uma vantagem, especialmente em um país muito machista, porque você é muito visível." Mas, na França, disse ela, "existe a ideia de que se é um cargo muito sério ou realmente atraente, por que não um homem?"
Lauvergeon nasceu em uma família de classe média em Dijon. É casada com um dirigente de uma pequena empresa petrolífera, com quem tem uma filha de 11 anos e um filho de sete.
Ela foi uma jovem estrela; engenheira, já representava, com pouco mais de 30 anos, o então presidente François Mitterrand em grandes reuniões internacionais. O presidente Nicolas Sarkozy foi um dos seus primeiros defensores e, logo após eleito, a chamou para o governo. "É verdade que nem sempre é fácil dizer não a Sarkozy." Mas foi o que ela fez.
O tempo passa. "Ele quer dizer não para mim agora", ela disse, rindo novamente. "É uma espécie de vingança."
Seu principal rival é Henri Proglio, o presidente da EDF (Electricité de France), maior produtora mundial de energia nuclear e um dos principais clientes da Areva. Ao ser nomeado, Proglio se intitulou "capitão" do time nuclear francês e declarou que a Areva deveria ser extinta. Mas Areva é uma empresa internacional, diz Lauvergeon, e a EDF, que detém 2,2% das ações, hoje representa apenas 25% do seu faturamento -já chegou a 80%.
Num momento em que o mundo revê a segurança da energia nuclear, a França depende dela -77% da sua energia elétrica provêm de reatores nucleares, que não emitem dióxido de carbono. Lauvergeon diz que o mais novo reator Areva é muito mais seguro do que os japoneses, mais antigos, e que produz menos resíduos. Os dois que estão sendo construídos na Europa sofreram atrasos custosos e problemas nas obras, e outros dois estão sendo fabricados na China. Mas o mercado para reatores mais seguros deve ser fortalecido com o acidente de Fukushima.
Este é um momento arriscado para Lauvergeon. Seu mandato acaba em junho, e ela tem adversários poderosos. Ela deve enfrentar concorrentes para ser reconduzida, mas diz que isso é saudável.
Embora a "Le Point" tenha recentemente dito que a executiva estava sendo "fritada", considera-se que sua situação agora melhorou, em parte porque ela se recusa a sair em silêncio e em parte porque a política mudou. Também pode ser, sugerem pessoas ligadas à executiva, que o governo tenha um pouco de medo dela. "Eu garanto", afirmou, às gargalhadas, "que não vão conseguir me estrangular num canto escuro!"

Na França, "existe a ideia de que se é um cargo sério ou atraente, por que não um homem?"

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