São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

A arte de esculpir curvas em joias

Por SUZY MENKES

As águas azuis, a vegetação exuberante do Rio de Janeiro e as curvas sensuais da arquitetura de Oscar Niemeyer: tudo é inspiração para Roberto Stern. De sua oficina de joias - que ele chama de a maior do mundo - no bairro de Ipanema, no Rio, Stern seguiu seu pai, Hans, para fazer da H. Stern, empresa fundada em 1945, uma potência global, com 165 lojas distribuídas em 13 países.
A estilista belga Diane Von Furstenberg, cujos desenhos fazem parte de uma das muitas colaborações feitas para a marca brasileira, diz a respeito de Stern: "Roberto é o homem da Renascença, um visionário, um homem capaz de abraçar design e negócios e misturá-los sem esforço. Ele incorpora a arte, a natureza do design, em joias de qualidade real".
Stern é entusiasmado, mas modesto, anulando a ideia de que a América do Sul é o novo El Dorado da luxúria. "Agora, todo mundo está atrás do Brasil, todo mundo está apostando como louco no país, mas sem estratégia", diz ele. "As compras ainda são feitas em sua maioria no crédito. Todas as empresas internacionais aprendem muito rápido. Elas superestimam o Brasil - há uma corrida no Brasil, as pessoas pensam que se trata de uma mina de ouro."
Stern sabe tudo sobre minas, já que sua empresa é verticalizada e opera em todos os elos da cadeia - desde o processo de mineração de pedras preciosas como esmeraldas, o que inclui a realização das fases de corte, afiação, limpeza, polimento até o ajuste de joias.
Além das habilidades no manejo do ouro - "moldando-o como líquido" - e o uso inventivo das pedras coloridas semipreciosas como ametistas, águas-marinhas, topázio e turmalinas, Stern tem um talento especial para parcerias. Essas colaborações incluem a tradução dos movimentos de dança da companhia contemporânea brasileira Grupo Corpo e uma excepcional parceria com Niemeyer para comemorar o 103o aniversário do arquiteto brasileiro. Dança e arquitetura, na H.Stern, tornaram-se joias.
A coleção de Niemeyer inclui pulseiras de ouro ondulantes, brincos curvilíneos de diamante e pingentes na forma de flores - o que Stern descreve como "ritmo em forma". Em Londres, a Harrods vende o menor anel, em ouro de 18 quilates, a partir de £900, ou US$ 1.436, enquanto os maiores, de ouro branco cravejados de diamante, saem por £4.000.
Niemeyer evita o ângulo reto e a inflexível e dura linha reta feita pelo homem em favor "da curva livre e sensual" encontrada em montanhas do seu país, no "curso sinuoso dos rios, nas ondas do oceano, no corpo de uma mulher."
Stern foi gênio o suficiente para tomar como modelo não a poesia presente no concreto da catedral de autoria do arquiteto em Brasília ou no prédio residencial com curvas icônicas em São Paulo, mas o estudo dos seus esboços. "Eu não sou arquiteto. Eu sou um bom designer e abri a mente para seus esboços. Eles são leves e diferentes das suas obras", disse Stern, referindo-se ao resultado como "fluido e orgânico", além de dizer: "É uma imersão. Parece Niemeyer e parece H.Stern".
Já para Diane Von Furstenberg, havia um tipo diferente de colaboração. A estilista apresentou como inspiração joias ousadas procedentes da Índia, que, em última análise, foram traduzidas como peças de cristal de rocha com um corte cabochão (tipo de lapidação antiga) para dar profundidade e esculpidas com sutras (ou mantras) que declaram "amor", "risos", "liberdade" ou "harmonia".
"Diane foi atrás de mim. Eu não sabia nada sobre o vestido que ela criou (o famoso modelo envelope) nem quem era, mas Diane insistiu. E me apaixonei por suas ideias, por seu amor e envolvimento com as joias", diz Stern, que, excepcionalmente, deu continuidade ao trabalho com ela, quando teria sido só uma colaboração.
H. Stern é um exemplo de marca brasileira de sucesso em seu próprio território e chama a atenção em todo o mundo, mantendo as características particulares de seu país de origem. Como Stern observa modestamente: "Tudo é modelado à mão. Não acho que você tem esse luxo na Europa."


Texto Anterior: Das praias cariocas para o mundo
Próximo Texto: Francisco Costa - mineiro e minimalista
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.