São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Na guerra do chocolate, há mais em jogo do que o sabor

Por KIM SEVERSON

Na gigante fabricante de balas e chocolates britânica Cadbury, os executivos estão lutando contra uma proposta de aquisição de US$ 16,2 bilhões da americana Kraft Foods. Aguardando nos bastidores está a Hershey's, que já tem licença para vender uma versão do chocolate britânico nos EUA.
Os grandes prêmios são mercados emergentes como a Índia, onde Cadbury é a marca preferida dos jovens, que começam a comprar chocolate para as festas em vez de doces mais tradicionais.
Mas, para os britânicos, a perspectiva de os americanos dominarem a produção de seus chocolates Dairy Milk e Flake colocou o país em um redemoinho emocional. "Quando se trata de proteger nosso chocolate -e o sabor da infância britânica-, nós lutamos", escreveu o prefeito de Londres, Boris Johnson, no "The Telegraph".
"Enfrentamos uma opção desanimadora de sucumbir à Kraft, fabricante das lâminas plásticas de queijo amarelo, ou à Hershey's, cujos chocolates tiveram seu sabor comparado a uma mistura de sabão em pó com vômito de bebê."
Os americanos consomem cerca de 5,5 kg de chocolate por ano/ pessoa, cerca da metade dos britânicos. Mas também têm uma opinião definida sobre seu produto. O chocolate já servia como barômetro de costumes sociais, mudanças culturais e condições econômicas nos EUA antes que Milton Hershey produzisse a primeira barra, em 1900. O presidente Thomas Jefferson foi um dos amantes do produto.
"É uma coisa intrinsecamente importante para as pessoas", disse John Scharffenberger, produtor de vinhos americano que se transformou em chocolateiro e em 2005 vendeu sua companhia artesanal para a Hershey por US$ 50 milhões. "Ele se conecta a nossas emoções e nosso pensamento."
Quando os EUA começaram a se alimentar de modo mais saudável, no início desta década, o chocolate e seus antioxidantes tinham grande procura. Quando o país se tornou obcecado por comida, as barras com nomes complexos e porcentagens de cacau foram uma maneira de separar os reais atores da multidão de Godiva.
O chocolate premium é o setor que mais cresce nesse mercado, que deve atingir US$ 18 bilhões até 2011, segundo o grupo de pesquisas Packaged Facts. E hoje a Cadbury e a Nestlé vendem no Reino Unido chocolates Dairy Milk e Kit Kat certificados, o que significa que os produtores recebem um preço justo, e os consumidores, a promessa de que não foram usados trabalho infantil e outras práticas impalatáveis.
Mas, assim como durante a Depressão, em 2009 o chocolate virou um barômetro da economia. Em uma era de orçamentos reduzidos e insegurança financeira, o chocolate continua sendo um prazer barato e tranquilizador. O Snickers, batizado em 1930 com o nome do cavalo de seu inventor, ainda vende cerca de US$ 2 bilhões por ano.
Porque, no final, o chocolate tem tanto a ver com a história quanto com seu sabor. E isso é verdade quer você tenha crescido em Londres ou em Nova York.


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