São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Dançarinos exibem parceria forjada no calor do flamenco

Por JULIE BLOOM

Martín Santangelo e Soledad Barrio formam uma parceria excepcionalmente produtiva no mundo da dança. Os fundadores da companhia espanhola Noche Flamenca são, ao mesmo tempo, coreógrafo e musa, diretor e bailarina, marido e mulher.
Eles se conheceram em 1992 nos estúdios de dança de Madri e desde o ano seguinte vêm construindo uma das mais respeitadas trupes do flamenco em todo o mundo.
Seu atual programa em Nova York, um show de flamenco tradicional com várias novas obras, revela muito sobre a relação artística e pessoal que o casal mantém. "Soledad Barrio e o Noche Flamenca" estreou recentemente no teatro Lucille Lortel, em Manhattan, onde fica até este sábado.
"Vamos ao ensaio juntos; estamos cuidando juntos das crianças; vamos para a cama, falamos nisso; levantamos, falamos nisso tomando café", disse Santangelo, comentando a sobreposição entre trabalho e vida pessoal.
A dupla, que se casou em 1995 e tem dois filhos, diz encarar como um constante desafio o equilíbrio entre a vida familiar e o compromisso com a arte. "Às vezes, é tudo tão abrangente que chega a sobrecarregar", disse Santangelo.
Barrio, também coreógrafa, concordou: "Como alguém que ama seu trabalho, é difícil deixá-lo de lado em casa. E ambos amamos nosso trabalho".
Sobre o palco, Barrio é explosiva e exala uma paixão crua. Em artigo no "New York Times", o crítico de dança Alastair Macaulay a considerou "uma dançarina intensamente dramática", notando que sua habilidade com os pés expressa "o brilho e a cor do ritmo flamenco".
Recentemente, ela e Santangelo se acomodaram no balcão do teatro para conversar sobre o espetáculo. Barrio, usando uma malha verde-maçã com capuz, o cabelo castanho escorrendo sobre os ombros, chega séria e reservada, enquanto Santangelo é entusiasmado.
Embora tivessem desembarcado em Nova York, vindos da Espanha, momentos antes, após um atraso no voo devido ao mau tempo, e soubessem que parte da companhia ainda estava em trânsito e poderia não chegar a tempo para a primeira apresentação, ambos estavam surpreendentemente calmos.
Juntos eles exibem uma sensibilidade casual e espontânea e costumam escolher poucas horas antes do espetáculo as peças que serão apresentadas a cada noite. O inglês de Barrio é limitado, e o marido traduz de um jeito que sugere que ele está descobrindo algo novo sempre que ela fala.
A peça "Mi Sueño" é uma história de amor simples, contada por meio de um dueto. Fala sobre um casal que se conhece, flerta e então descobre algo mais profundo -a unidade de duas pessoas. É também a primeira peça sem ser um solo que Barrio coreografou nos últimos sete anos.
"Estou sempre chorando e fazendo peças trágicas, e esta é uma peça muito feliz", disse ela. "O flamenco é vida. É a minha vida, e o vivo de um jeito muito interno. Falo sobre mim quando danço e tenho momentos em que sou feliz."
Barrio não concebeu "Mi Sueño" no isolamento; o marido tem um papel importante no processo criativo da companhia. O novaiorquino Santangelo, ex-bailarino e diretor artístico do Noche Flamenca, produziu o programa, selecionou os dançarinos, músicos e cantores e coreografou três novas peças para o espetáculo.
Uma delas, chamada "Refugiados", se baseia em poemas escritores por crianças refugiadas de vários países, que Santangelo encontrou em um boletim das Nações Unidas.
"Eu os li e fiquei: 'Uau, isso é como flamenco'", disse Santangelo, citando "a sensação de desespero, a sensação de orgulho, em circunstâncias extremamente deprimentes". Ele usa os textos infantis na peça, junto com quatro dançarinos, dois cantores e trechos de um poema do chileno Pablo Neruda.
A dança, como a maioria das peças do programa, é mais impressionista do que estritamente narrativa. "É difícil no flamenco falar da coreografia", disse Santangelo, para quem "muito tem a ver com o guitarrista e os cantores".
"Muitas vezes, você entra no estúdio e quer fazer isso e aquilo. E aí você sai para o palco e o guitarrista muda alguma coisa, e você tem de interpretar isso. Então é preciso ouvir o que está acontecendo na música."


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