São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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ANÁLISE DO NOTICIÁRIO

EUA mantêm foco no Irã

RODRIGO CORRAL E NOAH ARMSTRONG


Por DAVID E. SANGER
WASHINGTON - Certa tarde, em meados de março, na Sala de Situações da Casa Branca, enquanto o presidente Obama ouvia os argumentos de seus assessores de segurança sobre prós e contras do uso militar na Líbia, a conversa passou a tratar do impacto em um lugar estrategicamente muito mais crucial: o Irã.
Os mulás em Teerã estão atentos para cada passo de Obama, observou o assessor de segurança nacional Thomas E. Donilon. Se a declaração de Obama de que o coronel Muammar Gaddafi tinha "perdido a legitimidade para liderar" não fosse reforçada com atos, eles interpretariam isso como sinal de fraqueza -e, possivelmente, como sinal de que Obama estaria igualmente pouco disposto a reforçar com atos sua promessa de nunca permitir que o Irã disponha de arma nuclear.
"Não seria exagero dizer que esse foi o fator decisivo ou um fator principal" na decisão de intervir na Líbia, declarou, no final de março, Benjamin J. Rhodes, assessor sênior que participou do encontro. "A capacidade de aplicar esse tipo de força na região rapidamente "ao mesmo tempo em que lidamos com envolvimentos militares no Iraque e Afeganistão -, somada à natureza desta coalizão ampla, transmite ao Irã uma mensagem contundente sobre nossas capacidades, tanto militares quanto diplomáticas."
A equipe de Obama não nutre ilusões quanto à importância de longo prazo do coronel Gaddafi. A Líbia é um palco secundário. Conter o poderio do Irã continua a ser sua meta central no Oriente Médio. Cada decisão está sendo examinada sob o prisma de como afetará a estratégia regional da administração americana: como retardar o progresso nuclear do Irã e acelerar a chegada de um levante bem-sucedido nesse país.
O debate sobre o Irã torna mais complicado cada lance de xadrez na região. Mas as coisas mudaram com a chegada da Primavera Árabe. De repente, os líderes árabes autoritários que passaram os últimos dois anos tramando com Washington maneiras de reprimir os iranianos passam a preocupar-se mais com suas próprias ruas do que com o Irã.
Então, quando a Casa Branca vê a região através de uma lente persa, o que é que enxerga?
A LIÇÃO LÍBIA Em discurso que fez em 28 de março, Obama argumentou que a Líbia é um caso especial -uma responsabilidade moral urgente de proteger líbios que estão sendo caçados pelas forças de Gaddafi e um momento de oportunidade para fazer uma diferença com aquilo que o presidente descreveu como sendo as capacidades americanas "singulares" (leia-se: uma multidão de tecnologias, como mísseis Tomahawk, espionagem e obstrução eletrônica). São as mesmas capacidades que seriam críticas em ataque a instalações nucleares iranianas. Os funcionários seniores da administração sabiam que uma demonstração dessa capacidade não passaria despercebida pelo Irã. "Seria possível argumentar em favor de duas possibilidades", disse um funcionário envolvido na discussão sobre a Líbia e que exigiu anonimato para falar. "Talvez isso incentivasse o Irã a fazer o que vem deixando de fazer há anos: vir para a mesa de negociações. Mas é possível pensar que reforçará argumentos do setor linha dura, para o qual a proteção contra EUA e Israel é conseguir uma bomba nuclear e rápido."
A CARTA DO ALIADO ÁRABE Os sauditas veem o Irã como a maior ameaça a suas próprias ambições regionais e vêm cooperando com muitos esforços liderados pelos EUA para conter o Irã. No entanto, em poucos momentos, as relações entre Washington e Riad estiveram tão tensas quanto agora: para o rei Abdullah, a decisão do presidente Obama de não apoiar o ditador Hosni Mubarak no Egito foi um sinal de fraqueza e um aviso de que Obama poderá abandonar a liderança saudita se manifestações pró-democracia surgirem com força nesse país. Talvez esse fato explique por que a Casa Branca mal deu um pio quando os sauditas enviaram tropas ao vizinho Bahrein.
O QUEBRA-CABEÇAS SÍRIO Os EUA vêm tentando há anos, em vão, afastar o presidente sírio, Bashar al Assad, do Irã e fazê-lo reconciliar-se com Israel. Washington teme que, caso o governo de Assad tombe, haverá caos, tornando a Síria imprevisível, além de perigosa. Nas últimas semanas, a Casa Branca concluiu que tem menos a perder do que os iranianos. Se os protestos tiverem resultado positivo na Síria, o Irã poderá ser o próximo lugar.
AS OPÇÕES DE ISRAEL No interior de Israel, foi retomado um debate sobre por quanto tempo o país poderá se dar ao luxo de adiar o momento de enfrentar o problema por conta própria, alimentado pelo medo de que a reação do Irã à turbulência regional possa ser uma corrida para a bomba. Isso poderia levar ao pior cenário possível para Obama -uma guerra entre Irã e Israel-, e essa consideração dá pouca margem para erros.


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