São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Operadoras de celular podem estar seguindo os seus passos

Por NOAM COHEN
Um dos passatempos favoritos dos usuários da internet é compartilhar sua localização: serviços como o Google Latitude informam os amigos quando você está por perto.
Mas, como descobriu Malte Spitz, político do Partido Verde alemão, já somos constantemente monitorados, voluntariamente ou não. As operadoras de telefonia celular não divulgam exatamente quanta informação recolhem, por isso Spitz entrou na Justiça para descobrir o que a Deutsche Telekom sabia sobre ele.
Os resultados foram surpreendentes. Em um período de seis meses, a Deutsche Telekom tinha registrado suas coordenadas de latitude e longitude mais de 35 mil vezes. A ação significou uma rara oportunidade de vermos o que está sendo coletado quando andamos por aí com nossos celulares.
"Estamos todos andando por aí com etiquetinhas, e nossa etiqueta tem um número de telefone associado a ela, e também para quem ligamos e o que fazemos com o nosso telefone", disse Sarah Williams, especialista em informações gráficas da Universidade Columbia, em Nova York . "Nós nem mesmo sabemos que estamos cedendo esses dados."
A cada sete segundos mais ou menos, a operadora de alguém com um celular ligado está determinando qual é a torre mais próxima para direcionar as ligações com mais eficiência. E, por razões de faturamento, elas rastreiam de onde a chamada está vindo e quanto tempo durou.
"A qualquer instante, uma operadora de celular precisa saber onde você está; o celular está constantemente se registrando junto à torre que tiver o sinal mais forte", explicou Matthew Blaze, professor de informática e ciência da informação na Universidade da Pensilvânia.
As informações a respeito de Spitz, salientou Blaze, não se baseavam nessas atualizações, mas no número de vezes que ele checava seus e-mails.
Nos Estados Unidos, as empresas de telecomunicações não precisam informar precisamente qual material recolhem, disse Kevin Bankston, advogado da Fundação Fronteira Eletrônica e especialista em questões de privacidade. Ele acrescentou que, com base em processos judiciais, é possível dizer que as operadoras estão "armazenando mais e com maior precisão".
"Os telefones se tornaram uma parte necessária da vida moderna", disse ele, contestando a ideia de que "você precisa entregar a sua privacidade pessoal para fazer parte do século 21".
Nos EUA, há questões legais e de segurança estimulando as operadoras a monitorarem seus clientes. O FBI (polícia federal) e a DEA (agência antidrogas) já usaram registros da telefonia celular na identificação de suspeitos e na realização de prisões.
Se a informação é valiosa para as autoridades, pode ser lucrativa para os marqueteiros. As principais operadoras americanas de telefonia móvel se negaram a explicar exatamente o que recolhem e para qual fim.
A Verizon, por exemplo, limitou-se a citar sua política de privacidade: "Informações como registros de ligações, uso dos serviços e tráfego de dados", diz um trecho, podem servir para fins comerciais, "com base no uso que você faz dos produtos e serviços que já possui, ressalvadas eventuais restrições previstas em lei".
Por razões ligadas à história alemã, a Justiça do país dá ênfase à proteção da privacidade. Spitz tentou pela primeira vez em 2009 obter seu prontuário completo, mas a Deutsche Telekom se opôs.
Durante seis meses, relatou ele, houve um "pingue-pongue" de cartas de advogados, até que a Corte Constitucional decidiu, separadamente, que as regras existentes em matéria de conservação dos dados além daqueles necessários para faturamento e logística eram ilegais. Logo depois, os dois lados chegaram a um acordo: "Só recebo as informações relativas a mim e não recebo todas as informações, como para quem estou ligando, quem me mandou uma mensagem de texto e assim por diante", disse Spitz.
Mesmo assim, a Deutsche Telekom lhe enviou 35.831 informações na forma de arquivo criptografado a fim de proteger a privacidade dele durante a transmissão.
A Deutsche Telekom, dona da operadora T-Mobile, da qual Spitz é cliente, disse, por e-mail, que guardou seis meses de informações, conforme previsto em lei e que, após a decisão judicial, "cessou imediatamente" o armazenamento de dados.
Passado um ano da decisão judicial que proibiu esse tipo de retenção de dados, há um movimento para que uma nova lei, mais limitante, seja aprovada. Spitz, que aos 26 anos já é membro do comitê executivo do PV alemão, diz ter divulgado esse material para influenciar o debate.
"Eu quero mostrar a mensagem política de que esse tipo de retenção de dados é realmente enorme, e que você pode realmente examinar a vida das pessoas durante seis meses e ver o que elas estão fazendo onde elas estiverem."


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