São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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Robô vira chamariz ao ensino de oceanografia

Por LISA W. FODERARO

NEW BRUNSWICK, Nova Jersey - Dois alunos da Universidade Rutgers, os futuros oceanógrafos Emily Rogalsky e Dave Kaminsky, examinavam telas de computadores que mostravam mapas digitais da costa de Nova Jersey (EUA), monitorando o progresso do RU27, ou "Scarlet Knight" ("cavaleiro escarlate").
O Scarlet é um robô submarino, no formato de um pequeno avião, que o Instituto de Ciências Marítimas e Costeiras da Rutgers lançou há poucos dias na costa de Nova Jersey. Se tudo correr conforme o planejado, ele chegará à Espanha em nove meses, recolhendo informações sobre o oceano Atlântico durante esse percurso.
Com seu inovador programa de robôs, a Rutgers pretende atrair o interesse para a oceanografia, área considerada crucial devido à crescente preocupação com a saúde dos oceanos, ante a mudança climática e o excesso de pesca.
Em um relatório de 2008, os departamentos de Comércio e Educação dos EUA disseram que o Serviço Nacional da Pesca Marítima enfrenta uma "tempestade perfeita", por causa da aposentadoria iminente de vários membros, do excesso de trabalho e da "diminuição da oferta" de cientistas nessa área. O relatório pedia ao Congresso que libere mais verbas para ampliar o número de estudantes.
Usando tecnologia por satélite e um centro de controle de US$ 6 milhões, o programa de robôs da Rutgers é o tipo de empreendimento capaz de seduzir os alunos a seguirem a oceanografia.
"Não estamos só olhando atividades humanas diretas, como a pesca", disse Steve Murawski, diretor de programas científicos do Serviço Nacional da Pesca Marítima, ligado ao Departamento de Comércio. "Estamos também tentando integrar o impacto da mudança climática. E precisamos de pessoas com as habilidades quantitativas e a imaginação para juntar esse quadro."
A Rutgers tem mais de 20 outros robôs usados em distâncias mais curtas, inclusive no Mediterrâneo e nas costas de Antártida, Austrália, Havaí e Nova Jersey. Murawski disse que o uso dos robôs da Rutgers representa "uma nova onda de amostragem dos oceanos", com uma tecnologia que só decolou nos últimos anos.
Nesse dia em especial, Rogalsky e Kaminsky estavam tentando traçar a melhor rota para o robô, fazendo-o atravessar um turbilhão que existe a cerca de 90 km da costa de Nova Jersey, para então chegar à chamada corrente do Golfo. "Nunca pensei que fosse ter uma experiência destas como aluno de graduação", disse Kaminsky, pouco antes de o Scarlet dar notícias do seu paradeiro. "Sempre tive fascinação pelo oceano."
A universidade também mantém um popular curso de introdução à oceanografia, que atrai alunos com pendores científicos, ou que precisam apenas completar créditos. "Esta é uma aula que muita gente cursa achando que vamos passar o dia todo falando de baleias", disse a professora Tracy M. Quan. "Mas alguns deles acham essas outras coisas realmente interessantes também."
Albert Nedelman, 20, sabia apenas que se interessava por meio ambiente quando se matriculou na Escola de Ciências Ambientais e Aplicadas. "[O curso de oceanografia] atiçou meu interesse", disse ele. "Estou fazendo outro curso de ciência marítima neste outono. Sou só um calouro, mas vamos ver para onde a vida me leva."
São os robôs que mais parecem cativar os alunos. Nos últimos anos, disparou o número de estudantes que se dedicam ao laboratório de ciências marítimas da universidade. E cada vez mais graduandos tentam se encaixar em projetos de pesquisa realizados durante o verão.
"Estamos realmente trabalhando para tornar o oceano mais acessível à comunidade dos graduandos", disse Scott Glenn, professor da Rutgers. "Quando eu estava na escola, só havia um jeito de ser oceanógrafo, que era fazer doutorado e ser pesquisador. Agora há uma necessidade de mais engenheiros e cientistas interdisciplinares, e não é realmente necessário ter doutorado."
Parte da excitação em torno dos robôs tem a ver com o risco. No ano passado, os alunos pilotaram remotamente o modelo RU17 entre Nova Jersey e um ponto a menos de 340 km dos Açores. Mesmo sem chegar à Espanha, a máquina percorreu 5.700 km, quebrando o recorde de distância para submarinos semelhantes.
O robô provavelmente foi danificado por um peixe grande e afundou em um dia e meio. Na nova versão, as pilhas alcalinas que abasteciam a máquina foram substituídas por baterias de lítio que custam US$ 25 mil. Isso lhe permitirá usar uma energia equivalente a cinco ou seis luzinhas de uma árvore de Natal e permanecer no mar por muito mais tempo. O compartimento que abriga os sensores ganhou uma proteção de titânio. "Agora você pode bater nele com uma marreta", disse Glenn.
Os sensores podem medir profundidade, salinidade e temperatura do mar, entre outras coisas, e transmitem os dados por e-mail a cada 6 a 8 horas. Glenn espera que no futuro haja uma frota de robôs capazes de patrulhar bacias oceânicas inteiras.
"Somos ruins de previsão oceânica porque o oceano é muito pouco observado", disse ele. "Se queremos ver a mudança climática, é preciso ter bons modelos oceânicos e bons modelos atmosféricos." A Universidade de Washington e o Instituto Scripps de Oceanografia, da Universidade da Califórnia em San Diego, também lançaram sondas submarinas nos últimos anos.
Para completar a sua longa jornada, os operadores do "Scarlet Knight" pretendem que ele pegue carona na corrente do Golfo, que cobre cerca de um terço do oceano. Mas a bióloga marinha Christina Haskins, técnica do projeto, disse que um eventual fracasso não será em vão. "Se esta coisa acabar no fundo do oceano ou chegar à Espanha, estaremos coletando dados e treinando um grupo inteiro de alunos de graduação."


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