São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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No Oriente, mulher no trabalho é algo raro

Por CHRIS V. NICHOLSON

Hoda Abou-Jamra ainda se lembra da reunião em que potenciais investidores em seu fundo de capitais privados pensaram que ela fosse a secretária. "Eu fazia uma pergunta, e eles respondiam para o homem ao meu lado", ela disse. "Mas não deixei que isso me irritasse." As mulheres de negócios, financistas e empresárias são uma raridade no Oriente Médio. Como sócia-fundadora de um fundo de tratamentos de saúde de US$ 40 milhões em Dubai, Abou-Jamra opera em um setor globalmente dominado por homens com uma força de trabalho localmente dominada por homens.
Em capitais privados, as mulheres representam aproximadamente 9% dos cargos de gerente sênior em todo o mundo, com a porcentagem variando de 9,1% na Europa a 8,7% nos EUA, segundo um estudo feito neste ano pela empresa de pesquisas do setor Preqin. O desequilíbrio é ainda mais acentuado no Oriente Médio, onde apenas 25% das mulheres entram no mercado de trabalho em geral. Abou-Jamra e outras profissionais femininas das finanças na região tentam melhorar essa mistura. É um processo lento, mas elas estão abrindo caminho criando seus próprios veículos de investimentos, forjando laços com atores influentes e aumentando a consciência de modo geral.
"Nos países do Golfo, as mulheres, na última década, se tornaram muito mais empresariais", disse Dina Kawar, embaixadora da Jordânia na França. Em seu país, as mulheres representam 13% de todos os trabalhadores no setor privado.
Como Abou-Jamra, Maha Al Ghunaim encontrou um lugar no topo criando uma nova firma financeira. Na filial de investimentos do fundo de riqueza soberana do Kuait, Al Ghunaim chegou a assistente de gerente. Mas a concorrência é intensa, e ela achou que sua melhor oportunidade de avançar estava em outro lugar.
Por isso, há 13 anos, fundou a Global Investment House, uma firma financeira sediada no Kuait. Desde então, ela se expandiu para capitais privados, com quatro fundos que administram cerca de US$ 1,5 bilhão.
As barreiras para as mulheres são tanto culturais quanto estruturais.
"Eu tive de aprender a ser mais agressiva para ser escutada", disse Abou-Jamra.
Mas alguns países do Oriente Médio proíbem que as mulheres dirijam carros ou convivam com o sexo oposto em espaços públicos. E códigos de vestimenta estritos são aplicados.
Essas restrições tornaram difícil para Muna AbuSulayman, uma empresária e ex-personalidade da TV, desenvolver suas últimas empreitadas, uma linha de moda e um aplicativo para novos pais no Facebook. Simplesmente registrar as empresas com o governo levou um ano, em vez dos três dias habituais, ela disse.
As mulheres muitas vezes dependem de credores conservadores, que relutam em dar empréstimos para pequenas firmas dirigidas por elas. Abou-Jamra saiu do Oriente Médio para encontrar dinheiro para sua empresa.
Uma conferência recente em Paris discutiu como o tutoramento e a mídia social podem ajudar mulheres financistas a ter sucesso na região. "Como mulher no Oriente Médio e como árabe, achei alguns homens muito prestativos", disse Abou-Jamra. "Eles me ajudaram a não desistir."
Anu Bhardwaj, que organizou a conferência, disse que seus esforços estão ligados a uma campanha mais ampla do Fórum de Empresas de Mulheres. Apoiado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que fornece pesquisas econômicas para 34 países industriais, o grupo está tentando educar empresárias em todo o mundo.
O grupo quer utilizar os recursos das mulheres ricas da região. Estima-se que, no Oriente Médio, as mulheres controlem bilhões de dólares. "As viúvas e divorciadas têm muito dinheiro", disse Bhardwaj, "e não gastam tudo em maquiagem."


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