São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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'Chapéus brancos' perseguem ladrões de gado

Por DAN BARRY

GROESBECK, Texas - Quem estava roubando gado tinha experiência como vaqueiro. Isso estava claro pela forma impecável como ele era capaz de atrair mais de uma dúzia de animais para fora dos currais, a fim de colocá-los em sua carreta e sumir na noite infinita do Texas, como um Flautista de Hamelin dos bovinos.
Os relatos começaram a se acumular no sul e no leste do Texas. Em 15 de março, 26 novilhos desapareceram de um galpão onde seriam vendidos em Crockett, condado de Houston -na mesma noite em que uma carreta de transporte de gado foi furtada no vizinho condado Walker. Em 3 de maio, 18 cabeças de gado sumiram de um celeiro no condado Milam. Duas noites depois, a 257 km dali, 28 evaporaram do celeiro onde esperavam compradores, no condado Nacogdoches. Já era o suficiente. Em 6 de maio, Hal Dumas, 58, guarda especial da Associação de Pecuaristas do Texas e Sudoeste -entidade setorial que também tem atribuições policiais-, se associou ao xerife do condado Milam para passar um alerta às comunidades pecuaristas.
Na última década, os guardas especiais da associação de pecuaristas investigaram mais de 11 mil casos de furto de animais e recuperaram ou localizaram mais de 37,5 mil cabeças de gado.
Roubar uma vaca é como roubar uma fábrica, dizem os pecuaristas, já que uma rês reprodutora saudável pode gerar dividendos durante anos.
Acima de tudo, os animais são símbolos da confiança comunitária -coisas preciosas e valiosas, pastando perto da estrada. Quando os criadores decidem vendê-las, costumam descarregar o seu gado em currais facilmente acessíveis nos galpões de venda, um ou dois dias antes do leilão. O galpão pode ter uma câmera de vigilância ou um guarda noturno, mas também pode não ter.
Para proteger os animais dos seus 15 mil filiados, a associação de pecuaristas, fundada em 1877 por criadores cansados de serem roubados, tem 29 guardas especiais, inclusive Dumas, todos com poder de dar voz de prisão, armados e com chapéus brancos. Usando bases de dados sofisticadas (como um arquivo com mais de 100 mil marcas usadas no gado) e a pura intuição (procurando rastros de pneus no esterco), esses guardas investigam furtos de gado e de propriedades e inspecionam milhões de reses por ano.
Os guardas são respeitados pelos ladrões de gado; sabem disso porque um ladrão contou.
Alguns anos atrás, eles contribuíram com a prisão de Jerome Heath Novak, elegante e inteligente ladrão de gado de uma orgulhosa família de pecuaristas do condado Brazoria, e que era tão audacioso em seus roubos noturnos que chegou a furtar gado de Nolan Ryan, lenda do beisebol e ícone do Texas. Ele só foi apanhado depois de levar a leilão um novilho com uma cicatriz de arame farpado, o que alguém notou.
Antes de ser levado à prisão, Novak, então com 27 anos, sentou-se com os guardas e, demonstrando remorso, ajudou-os a entender a mente do ladrão de gado. Ele contou que não gostava de galpões com luzes dotadas de sensores de movimento, nem de galpões com pessoas vivendo no local. E que evitava fazendas e galpões com o emblema azul indicando filiação à associação dos pecuaristas.
"Eu tentava ficar longe deles porque são um bando de membros que se mantêm unidos", disse Novak, mais conhecido como Heath. Quando ele terminou, um dos guardas fez a ele a grande pergunta: "Por quê?".
Quatro dias depois de Dumas disparar o alerta sobre os roubos, o Departamento do Xerife do condado Brazoria recebeu a denúncia sobre um curral contendo três dúzias de novilhos em um terreno no qual esse gado não deveria estar. Um policial chegou lá na hora em que um vaqueiro estava colocando os novilhos em uma carreta.
O vaqueiro não tinha nenhuma documentação atestando ser o dono dos novilhos. O investigador Chris DuBois relatou que "nenhuma de suas respostas fazia sentido algum" -exceto, talvez, o seu nome: Jerome Heath Novak.
Novak, agora aos 32 anos, foi indiciado em maio sob a acusação de novamente violar o vínculo comunitário, num caso que mais uma vez leva os investigadores a perguntar o porquê.


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