São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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LENTE

Um desejo pelo que é real

Se você está se sentindo sobrecarregado e procura formas de escapar da recessão, poderá encontrá-las em uma galinha, em um pote de picles ou na colheita desta estação.
A bolha financeira e seu estouro acenderam o anseio por uma era de baixa tecnologia, mais estável e simples -a busca por um tempo que parece menos comercial e mais real.
"É a atração da autenticidade, seja uma estética, uma receita ou uma técnica", disse ao "New York Times" Sean Crowley, designer de acessórios para Ralph Lauren. Seu interesse por "coisas antigas de diversos períodos" o levou a colecionar e restaurar guarda-chuvas ingleses e franceses dos anos 1930 e 40.
Crowley, 28, representa um movimento de antiquários para recuperar os acessórios da classe abastada na virada do século, escreveu Penelope Green no "Times". Novas lojas de Nova York como a Against Nature estão vendendo objetos vitorianos, coleções de animais empalhados, máscaras de esgrima e retratos ancestrais para colecionadores e decoradores.
Um novo produto, um licor chamado Root, é realmente antigo e atende a e sse "new vintage style". Ele deriva do Root Tea (chá de raiz), uma receita que os indígenas americanos ensinaram para os colonos no século 18. Steven Grasse, proprietário da loja Art in the Age of Mechanical Reproduction, disse a Green: "Root tem tudo a ver com restaurar a aura que se perdeu com a mercantilização em massa de nossas vidas. Nossa função é restaurar a aura [que foi] perdida para os hipermercados e os produtos baratos da China".
Se alguns conseguem encontrar essa aura de autenticidade em artigos retrô, outros a descobrem em coisas mais meigas, como galinhas no quintal. As granjas que fornecem pintinhos mal conseguem atender à demanda, escreveu William Neuman no "Times". Marie Reed, representante de vendas de uma granja no Texas, disse que os gerentes de lojas que vendem as aves de sua empresa reportaram um aumento na demanda por pintos, por sementes para jardim e por munição neste ano. "Isso me diz que as pessoas querem depender mais de si mesmas", ela disse.
Quanto menos tecnológico você pode ser com um estoque na despensa? Bruce Butterfield, diretor de pesquisas da Associação Nacional de Jardinagem, um grupo setorial, disse ao "Times" que as conservas alimentares caseiras aumentam em uma economia pobre. Muitas famílias fizeram a opção de transformar seus porões em estoques, que foram comuns nas residências do século 19, escreveu Michael Tortorello no "Times".
Se criar um porão forrado de terra e enchê-lo de batatas parece um pouco rústico demais, talvez enlatar, preservar e fazer picles possa ser mais fácil. Ultimamente, muitos parecem pensar assim. As vendas de equipamentos para conservação de alimentos aumentaram quase 50% no ano passado, segundo a empresa especializada Jarden, escreveu Julia Moskin no "Times". As conservas oferecem satisfações primitivas e resultados práticos, ela escreveu.
"As pessoas querem recuperar seu alimento e suas capacidades dos gigantes industriais", disse June Taylor, pioneira no uso de produtos locais e sazonais.
É a autenticidade encontrada em um vidro de conserva, em um galinheiro ou em um estilo de vida antiquado. Como disse Grasse: "A abordagem é especialmente apropriada neste momento, porque tudo desmoronou. As antigas ideias de luxo ruíram. As pessoas estão procurando o que é real".

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