São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Voluntários monitoram cidadãos e polícia russos

Por MICHAEL SCHWIRTZ

MOSCOU - A avenida central de Moscou, onde o trânsito normalmente fica engarrafado de carros, estava tomada por pessoas nesse dia -cidadãos curtindo um raro dia de sol no final do inverno enquanto a banda do corpo de bombeiros, em seus uniformes verdes e capacetes dourados, esquentava o ambiente da parada do festival da primavera.
Enquanto a banda se preparava para desfilar, Vladimir Kazerzin entrou com seus homens para ajudar a abrir um corredor no meio da multidão. Kazerzin é ex-professor de filosofia, e não policial -e é justamente esse o xis da questão. Ele lidera um grupo de voluntários, chamados "druzhiniki", que, com frequência cada vez maior, faz patrulhas na capital ao lado da polícia para reforçar o contingente desta e, ocasionalmente, frear sua agressividade.
"Olhe para aquele soldado de cara triste, comparado com meus homens", disse Kazerzin em tom de voz que denota orgulho, apontando para um recruta particularmente soturno. Nas proximidades, policiais moscovitas usando grandes chapéus de pele gritavam agressivamente, mandando as pessoas abrirem caminho. O público reagia com expressões de indignação.
Enquanto isso, os homens de Kazerzin, em sua maioria universitários de braçadeiras vermelhas e piercings nas orelhas, sorriam e batiam papo com os transeuntes enquanto lhes indicavam lugares para sentar.
Para quem se recorda da vida na União Soviética, os "druzhiniki" lembram as saudosas patrulhas cidadãs, em que estudantes e avós percorriam as ruas sob ordens do Partido Comunista, usando braçadeiras vermelhas e prestando atenção para flagrar possíveis vândalos e delinquentes.
Embora o número de patrulhas desse tipo tenha diminuído desde o fim da era soviética, o governo vem trabalhando para reativá-las, em parte para ajudar as agências policiais a combater o aumento da criminalidade e desordem pública prevista pelas autoridades em função do aumento do desemprego e da alta dos preços decorrentes da crise econômica. Um grupo de deputados do Parlamento russo vem promovendo uma lei que aumentaria a autoridade das patrulhas já existentes de voluntários.
Hoje esses grupos de voluntários não parecem diferir muito das organizações de vigilância comunitária civil encontradas em muitos países. Na Rússia, porém, elas oferecem um raro exemplo de voluntariado numa sociedade que vê os grupos cívicos com ceticismo, após anos de ativismo social forçado sob a União Soviética. Algumas pessoas receiam uma volta à época dos informantes civis.
Mas os proponentes dos grupos fazem pouco caso desses temores. "Quando é preciso proteger crianças e expulsar os vândalos adolescentes dos playgrounds, as pessoas concordam em agir juntas", disse Vasily Solmin, ex-tripulante de submarino da frota russa no Pacífico e atual diretor de um grupo de "druzhiniki" em Moscou. Hoje há cerca de 17 mil voluntários em Moscou e unidades de voluntários em mais de 40 outras regiões da Rússia, disse Viacheslav Kharlamov, assistente do chefe dos "druzhiniki" de Moscou. Na capital, voluntários ajudam a polícia a controlar as multidões em grandes eventos públicos como concertos, competições esportivas, festivais e manifestações de protesto.
A nova legislação, que provavelmente será discutida no Parlamento russo nos próximos meses, pode instituir os "druzhiniki" no nível federal. Mas críticos temem que essa força policial civil, se reforçada, poderia facilmente sucumbir à corrupção já presente nos organismos policiais da Rússia.
"Se já temos problemas para controlar nossa polícia hoje, o que vai acontecer quando criarmos uma estrutura muito menos treinada, disciplinada e controlada?" indagou Aleksandr Cherkasov, da organização de direitos humanos Memorial. "Ficaremos com uma formação obscura, fora do controle, que vai acabar se misturando com elementos criminosos."


Texto Anterior: Análise: O arriscado jogo norte-coreano
Próximo Texto: Na Índia, a força dos laços maternos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.