São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIÁRIO DE PARIS

França sai em socorro de seus restaurantes

Por STEVEN ERLANGER

PARIS - O pesado imposto sobre refeições nos restaurantes da França finalmente caiu em 1? de julho, mas muitos donos de cafés e restaurantes, já duramente atingidos pela mudança de hábitos sociais e a proibição ao fumo, acham que a redução não fará grande diferença para seus negócios.
"É balela", disse Christian Godin, dono do sempre lotado e popular Le Petit Vendôme, na rue des Capucines. "Para mim, faz 6 ou 7 anos que não aumento os preços de nenhum produto -nem do café, nem dos sanduíches, nada. Então, que preços querem que eu baixe agora?"
A queda dos impostos, porém, pode ajudar a salvar seus negócios e até, disse Godin, permitir que ele contrate outro funcionário, que foi parte do motivo para a mudança da lei. Com a crise econômica, a proibição do cigarro e uma geração que bebe menos, "perdemos 30% de nossa clientela", ele comentou.
Com a receita extra, "vou me aprumar de novo e talvez contratar, apesar de que agora deveria estar demitindo". Restaurantes, bares e cafés têm um lobby forte na França e vêm sofrendo a crise -especialmente os menores, que continuam fechando. Em 1960, a França tinha 200 mil cafés, segundo a Federação Nacional de Cafés, Cervejarias e Discotecas. Hoje são 38.600; mais de 2.000 fecharam só no ano passado.
Depois de anos de pedidos de presidentes franceses, a União Europeia agora vai permitir que os países-membros reduzam a taxa sobre valor agregado (TVA) dos restaurantes de 19,6% para 5,5%. Esta última é a taxa vigente nas lanchonetes e restaurantes de fast food, como o desprezado e muito frequentado McDonald's, que está ganhando dinheiro durante a crise e abrindo uma série de cafés para concorrer com os mais tradicionais.
Os donos de restaurantes se queixaram de que estão sendo discriminados e estão perdendo ainda mais negócios para as redes de fast food. Os estabelecimentos mais baratos prosperam nas cidades francesas, dada a crescente tendência dos trabalhadores a comer algo rápido perto do trabalho em vez de fazer almoços fartos e demorados.
E os sindicatos se queixaram de que os salários estão baixos demais e de que ninguém está contratando. A queda dos impostos deverá custar ao Orçamento francês cerca de US$ 6,6 bilhões. Isso, por sua vez, deverá criar 400 mil novos empregos em restaurantes até 2011. Mas é difícil encontrar um dono de restaurante que ache que a medida vai reverter a tendência negativa do setor.
Patrice Tatard, ex-arquiteto que dirige o restaurante e café La Bourse ou La Vie na rue Vivienne, no bairro financeiro de Paris, diz que baixar os preços não vai fazer muita diferença. "Vou diminuir [os preços] por solidariedade e porque não quero encher os bolsos em comparação com os outros." Mas as pessoas que estão se esforçando em cortar gastos não virão ao restaurante "só porque baixei os preços 1 ou 2 euros".
Ele se pergunta como ele poderá agora, como pedem o governo e os sindicatos, baixar os preços, aumentar os salários e contratar mais pessoal, tudo ao mesmo tempo. "Gostaria que alguém me explicasse como fazer isso", ele disse. Com a crise econômica, os negócios caíram 30%, segundo Tatard. E como ele está enfrentando isso? "Vendi meu carro."
A vida está mais difícil que nunca nos grandes restaurantes três estrelas como o Pavillon Ledoyen, que também vai reduzir os preços de alguns artigos, disse o chef do restaurante, Christian Le Squer. "Acho que vai dar um pouco de segurança às pessoas, que voltarão a sair para comer", ele disse.
Do que Ledoyen precisa não é uma redução da TVA, ele disse. "Precisamos de uma clientela internacional, que não está vindo. Essa é a economia global."

Colaboraram Nadim Audi e Scott Sayare diário de Paris



Texto Anterior: Perfumistas recorrem aos números para elevar vendas
Próximo Texto: CIÊNCIA & TECNOLOGIAS GADGETS
Produtos úteis para os bichos de estimação

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.