São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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Trilha sonora virou negócio

Produtores de filmes disputam músicas variadas

Por MICHAEL CIEPLY

LOS ANGELES - "O Discurso do Rei" recebeu 12 indicações ao Oscar. Talvez não o tivesse conseguido esse feito sem ajuda de um empreendedor britânico que criou negócio na intersecção delicada do cinema e da música.
Em um acordo pouco convencional que pode prometer um revival da música para filmes, a empresa Cutting Edge Group, com sede em Londres, e seu executivo-chefe, Philip Moross, efetivamente compraram a parte musical de "O Discurso do Rei" meses atrás.
O investimento permitiu que os produtores do filme contratassem Alexandre Desplat, compositor francês premiado cuja trilha recebeu uma das indicações ao Oscar e recrutassem a Orquestra Filarmônica de Londres para gravar músicas que, de outro modo, teriam sido tocadas por um conjunto pequeno.
"O que quisemos fazer foi conseguir a música que fizesse justiça às imagens", disse Iain Canning, um dos produtores de "O Discurso do Rei", sobre a decisão de abrir mão dos direitos sobre a música, em troca de contar com dinheiro suficiente para fazer a música certa para o filme.
O papel desempenhado por uma firma como a Cutting Edge varia muito de um filme a outro. Embora o controle criativo continue nas mãos do diretor e dos produtores, a firma, geralmente, fornece ou contrata um supervisor musical, que sugere as canções a serem incluídas e ajuda a conseguir os direitos, e um compositor, que compõe a trilha. Ela pode também fornecer os serviços de estúdios de gravação, operar seu selo de gravação, administrar direitos de publicação e distribuir a música sob outras formas após o lançamento do filme.
Mas os orçamentos para música vêm minguando há pelo menos uma década, em função da pirataria, dos downloads baratos e da queda nas vendas de CDs.
Quanto à composição de trilhas sonoras, um punhado de compositores continua a ganhar mais presença. Um deles é Hans Zimmer, alemão que recebeu uma indicação ao Oscar deste ano pela trilha sonora de "A Origem".
Mas os compositores se queixam de um mundo em que a concorrência é intensa, os honorários vêm diminuindo, e diretores, produtores e executivos de estúdio, destituídos de ouvido musical, investem recursos em efeitos especiais e atores, ao mesmo tempo em que reduzem o dinheiro disponível para a música.
Moross, que cresceu na África do Sul e estudou biologia molecular em Londres, decidiu modificar essa equação. Em 2008, ele e seus sócios levantaram um fundo inicial de US$ 15 milhões que lhes permitiria pagar produtores com antecedência pelos direitos sobre a música de filmes para os quais a Cutting Edge forneceria ou intermediaria serviços.
Ele e seus sócios pesquisaram os arquivos de música para filmes e criaram um modelo que define o que vão gastar de antemão com direitos.
Esses valores, embora sejam relativamente modestos, são cada vez mais atraentes para produtores que enfrentam dificuldades.
A Cutting Edge geralmente paga entre US$ 50 mil e US$ 200 mil. Esses valores somam-se ao dinheiro disponível para os orçamentos de música, que podem chegar a US$ 500 mil no caso de um filme cuja produção custe US$ 20 milhões, por exemplo.
Concretamente, o produtor do filme se protege, abrindo mão de lucros potenciais futuros com a música, em troca de dinheiro vivo.
No último ano, disse Moross, a Cutting Edge forneceu serviços para cerca de cem filmes, entre os quais "Harry Potter e as Relíquias da Morte, Parte 1". Até hoje, a empresa já investiu em 124 filmes.
Para a Cutting Edge, disse Moross, crescer mais vai exigir levantar mais capital e encontrar o que parece não estar em falta: produtores que precisam de capital. Isso significa voltar sua atenção mais a Hollywood, com filmes maiores, orçamentos maiores e mais riscos.
Moross tem plena consciência dos riscos. "As calçadas dos Estados Unidos estão cheias dos cadáveres de empreendedores britânicos que tombaram", ironizou.


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