São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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Do alto, uma perspectiva para salvar o planeta

Por MAÏA DE LA BAUME

PARIS - Yann Arthus-Bertrand vendeu mais de 3 milhões de exemplares de seu livro de fotos "Earth From Above" [a Terra vista de cima]. Sua última exposição em Paris apresentou vídeos de 5.600 pessoas fotografadas em 78 países e atraiu 150 mil visitantes em apenas um mês. E seu filme de 2009, "Home" [Lar], que custou US$ 16 milhões, foi exibido em todo o mundo.
O filme é uma série de imagens de 54 países, de surpreendente beleza natural, e uma advertência contra os excessos humanos.
"Durante vários anos, os cinemas americanos não quiseram mostrá-lo porque o filme era de graça", disse Arthus-Bertrand em uma entrevista. "Nos Estados Unidos, as coisas são complicadas, e o filme era de outro planeta."
Arthus-Bertrand, 64, recebeu algumas das maiores condecorações francesas, incluindo a Legião de Honra, e 12 escolas francesas foram batizadas com seu nome. Em 2009, ele foi nomeado embaixador da boa vontade para o Programa do Meio Ambiente da ONU.
Mas, ao contrário de muitos conhecidos defensores do meio ambiente, Arthus-Bertrand não tem um passado científico e não é político. E, na França, onde a credibilidade, geralmente, depende do nível de formação da pessoa, as carreiras bem-sucedidas como a dele são raras.
Em uma conversa, Arthus-Bertrand se revela mais um aventureiro pensador do que um intelectual francês. Seu escritório é uma cabana aconchegante em uma floresta perto de Paris, e muitos de seus funcionários têm menos de 40 anos. Ele é habitado por uma energia incansável e se distrai com facilidade.
"Ninguém é ambientalista por nascimento", disse. "É somente o seu caminho, a sua vida, as suas viagens que o despertam."
Um ex-ator sem educação superior, Arthus-Bertrand se descreveu como uma "criança violenta". Ele descobriu a fotografia aérea trabalhando como piloto de balão no Quênia. Do ar, você vê o mundo de maneira diferente, ele explicou; as fronteiras desaparecem.
Em 1992, ele tropeçou na ideia do "desenvolvimento sustentável" em um artigo no jornal "Le Monde", e isso mudou sua vida.
Seu trabalho em Earth From Above o transformou em um ambientalista, segundo diz. Durante mais de oito anos, fotografou cerca de 160 países e leu livros sobre questões ambientais. Poucas publicações quiseram publicar seu trabalho. Ele hipotecou seu apartamento para financiar o livro.
Earth From Above passou a ser considerado na França a bíblia da fotografia aérea. Arthus-Bertrand sempre preferiu eventos sensacionais para atrair pessoas para sua causa, e suas exposições de fotos, muitas vezes, se realizam em locais inesperados: Home foi mostrada em uma tela gigante diante da Torre Eiffel, para 25 mil espectadores.
Arthus-Bertrand costuma insistir no livre acesso a sua arte. Ele pediu publicamente para pessoas de todo o mundo que mostrassem Home sem cobrar ingresso.
"Eu disse a eles: 'Estou fazendo um filme grátis; eu fiz meu trabalho. Agora façam o seu'", explicou.
O filme, financiado principalmente pelo varejista francês PPR (que é dono do grupo Gucci, entre outros), é um projeto sem fins lucrativos que depende da boa vontade da distribuidora do filme, disse o autor.
Com a ajuda de grandes doadores como o banco francês BNP Paribas, Arthus-Bertrand iniciou a fundação GoodPlanet, que ajuda empresas a desenvolver iniciativas ecológicas, compensar as emissões de carbono e conter os gases do efeito estufa.
Mas muitas pessoas na França criticam o que consideram uma visão ingênua do ambientalismo. Para o crítico de cinema francês Jean-Michel Frodon, Arthus-Bertrand usou sua reputação para fazer um "filme bonitinho, 'polianesco'".
Arthus-Bertrand não se desculpou. "Existe uma coisa muito utópica no que faço", disse. "Mas a utopia não passa de uma verdade que o mundo ainda não está pronto para escutar."


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