São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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Fazendo as coisas durarem mais

Seja mantendo carros antigos ou abandonando caros planos de telefone celular, como fez Walt Truelson, as pessoas estão mudando seus hábitos de consumo

Por MATT RICHTEL

Os gastos do consumidor estão se recuperando, mas, para alguns, a recessão global deixou um resquício: um maior interesse por fazer as coisas durarem.
Não se compara à história de gerações passadas que foram marcadas pela Grande Depressão, que se apegavam a pratos antediluvianos e guardavam produtos enlatados até que se formasse ferrugem nas tampas. Mas, por enquanto, muitos cidadãos das sociedades do desperdício estão fazendo menos visitas às latas de lixo e reciclagem.
Para vários produtos -carros, telefones, computadores e até xampu e pasta de dentes- os dados mostram uma desaceleração dos ciclos de vida e consumo. Em muitos casos, a diferença é de meses, mas economistas e consumidores dizem que a abordagem poderá durar depois da plena recuperação, por causa da forte impressão causada pela recessão. Mas outros especialistas e historiadores afirmam que quando os gastos e o crédito voltarem, também voltará o desejo por marcas, moda e novidade, superando o aspecto prático do consumo.
No caso de televisores, as atualizações diminuíram, mas só porque muitas pessoas compraram TVs planas nos últimos anos. Hoje, há um intervalo no ciclo do produto, mas não necessariamente na demanda do consumidor.
Em algumas categorias importantes, existem indícios de desaceleração na atualização. Os consumidores americanos estão mantendo carros novos por um recorde de 63,9 meses, 4,5 meses a mais que há um ano e 14% desde o fim de 2008, segundo a firma Polk, que pesquisa esse mercado. Na verdade, quando se incluem os carros usados, a duração média de propriedade de um carro fica em 52,2 meses, também um recorde.
Analistas da indústria relatam ainda que os americanos atualizam seus celulares a cada 18 meses em média, contra 16 meses apenas alguns anos atrás. Eles mantêm seus laptops por quatro anos e quatro meses em média, um mês a mais do que um ano atrás, embora esse número venha declinando desde 2000.
Os consumidores fazem questão de usar até a última gota seus produtos domésticos, disse Ali Dibadj, analista da Sanford C. Bernstein, uma firma de pesquisa de investimentos que cobre grandes companhias como Colgate-Palmolive e Clorox.
"As pessoas estão espremendo o finalzinho do xampu", disse Dibadj, notando que relatórios financeiros de grandes companhias mostram frugalidade com coisas como aparelhos de barbear, sabão para roupas e creme dental.
Nancy F. Koehn, professora na Escola de Economia de Harvard e historiadora do comportamento do consumidor, tem certeza de que a mudança foi, senão permanente, pelo menos duradoura. Ela disse que derivou não apenas de uma economia abalada, mas também da sensação de que as grandes instituições, como governo e grandes corporações, podem não ser salvadoras confiáveis em uma crise.
"Não estamos voltando à época de que nossas avós falavam, quando elas guardavam e usavam as coisas cuidadosamente. Mas veremos um avanço consistente nessa direção", disse a professora Koehn. Para Walt Truelson, consultor administrativo em Portland, isso significou mudança em sua antiga paixão pelos carros, especialmente da marca Jaguar. Ele comprava um novo ou ligeiramente usado a cada ano ou dois, mas manteve seu carro atual, modelo 1999 verde-escuro, por quatro anos.
Truelson também passou a pagar pelos minutos usados no celular, em vez de assinar um plano mensal. Ele disse que as mudanças refletem em parte o fato de que sua empresa caiu com a economia, mas também o que ele diz ser uma reavaliação da necessidade de constantemente ter coisas novas: "É uma questão de mudança de valores".


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