São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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Coca-Cola nega descoberta de receita

Por ROBBIE BROWN
e KIM SEVERSON


ATLANTA - O programa "This American Life", da rádio pública, já fez trabalhos ambiciosos. Foi o primeiro veículo de mídia dos EUA a transmitir entrevistas longas com prisioneiros de Guantánamo. Enviou repórteres para passar um mês no Iraque. Expôs malfeitos de um fundo hedge. Então, qual outro tópico poderia ser tão importante e suscitar atenção suficiente para levar o site do programa a despencar sob o peso de uma enxurrada de visitas? Uma receita de refrigerante.
Em dia recente no programa, o apresentador Ian Glass revelou o que afirmou ser a fórmula original da Coca-Cola. Ele a encontrara escondida em artigo pouco notado que estava nos arquivos do "The Atlanta Journal-Constitution".
A receita se espalhou pela internet, sendo republicada em toda parte, desde CNN até Al Jazeera. Um programa de TV na Austrália fez sua própria Coca no ar.
"É uma coisa intrigante", disse Glass. "Já fizemos inúmeras reportagens sobre temas sérios. Mas nada atraiu atenção igual à que tivemos quando tratamos de um refrigerante." Como sempre faz, a Coca-Cola insistiu que a receita é incorreta. A fórmula verdadeira, diz a empresa, ainda está guardada em um cofre-forte bancário.
Não é de hoje que as pessoas demonstram grande interesse em decifrar o código culinário de suas comidas favoritas.
Tampouco é de hoje que as empresas compreendem o poder dos segredos culinários. O famoso "11 ervas e especiarias" da KFC e o "molho secreto" do McDonald's ajudaram essas empresas a ganhar bilhões de dólares.
A atração exercida pelas receitas secretas torna alguns fregueses leais ainda mais devotos dessas marcas. Não faz muito tempo, cozinheiros ficaram tão obcecados em recriar o bolinho Twinkie em casa que a loja de artigos domésticos Williams-Sonoma começou a vender as forminhas. O ex-repórter Todd Wilbur construiu todo um império baseado na venda de receitas secretas em livros e em seu site na internet.
Quando alimentos produzidos em fábricas começaram a se tornar parte integrante da dieta, na virada do século passado, eram promovidos como sendo limpos, puros e semelhante aos alimentos preparados em casa. Mais tarde, as coisas mudaram. As empresas começaram a promover a conveniência, os sabores singulares e as fórmulas secretas que só poderiam sair de uma cozinha experimental comercial.
Mas nenhuma outra empresa possui uma história de sigilo como a da Coca-Cola, que afirma que apenas um punhado de seus executivos sabe preparar o que ela chama de "Mercadoria 7x", que dá o sabor ao refrigerante.
Em 1960, E.J. Kahn Jr. listou muitos dos ingredientes originais da Coca em seu livro "The Big Drink". Então, veio o artigo de 1979 no jornal de Atlanta que o programa "This American Life" redescobriu. Nos anos 1990, o historiador Mark Pendergrast encontrou uma receita nos arquivos da própria empresa, escrita pelo inventor da bebida.
Em todos esses casos, a Coca-Cola negou a autenticidade das receitas.
A empresa não move processos por violação de marca registrada contra os imitadores porque, para isso, seria obrigada a revelar a fórmula do refrigerante no tribunal.
E, embora muitas pessoas adorem descobrir segredos, elas também adoram ter segredos. Enquanto a Coca-Cola continuar a negar a autenticidade das imitações, muitos consumidores continuarão a acreditar que só existe uma Coca-Cola de verdade.
Phil Mooney, o arquivista da Coca-Cola, diz que outras receitas só fazem a Coca legítima ter sabor ainda melhor. "As pessoas prepararam a receita e voltam de joelhos para a Coca", ele disse a Ian Glass. "Nunca antes, a Coca legítima teve gosto tão bom".


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