São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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Catástrofe iminente para recifes no golfo do México

Por JOHN COLLINS RUDOLF
Vastas plumas de petróleo parcialmente dissolvido parecem se espalhar pelo golfo do México e representam uma ameaça para os grandes recifes de corais em águas profundas, que os cientistas apenas começam a estudar.
A última equipe de pesquisadores que detectou essas plumas observou uma que se estende por aproximadamente 35 km a nordeste do poço explodido da BP, perto de pelo menos dois grandes recifes, incluindo um que foi descoberto no outono passado. Imagens preliminares mostram camadas da pluma tocando o leito marinho. Os cientistas ainda não têm uma avaliação definida sobre o impacto para os corais, mas se preparam para uma catástrofe.
"O pior cenário é que há uma camada de petróleo revestindo alguns corais", disse Erik Cordes, biólogo da Universidade Temple, Pensilvânia. "Isso basicamente os sufocaria."
A composição e a distribuição dessas plumas continuam sendo um mistério, e navios de pesquisa do governo as procuram intensivamente. Os cientistas acreditam que as plumas não sejam petróleo puro, mas provavelmente uma nuvem de gotículas de óleo, gás natural e o produto químico solvente Corexit, do qual 795 mil litros foram misturados ao jato de petróleo que jorra do leito marinho.
Essa névoa oleosa poderia ser muito tóxica para os recifes. Tanto o petróleo como os solventes, que quimicamente são parecidos com detergente para louça, prejudicam a capacidade dos corais de se reproduzirem. E essas consequências se amplificam quando as duas substâncias se combinam.
Os estudos sobre os efeitos do petróleo e substâncias químicas no coral se limitam à variedade de águas rasas.
Essencialmente, nenhuma pesquisa foi feita sobre seus primos que crescem lentamente em águas profundas. Por isso o vazamento da BP levou cientistas a embarcar em um curso intensivo sobre a interação da biologia submarina com essas toxinas.
"Todo mundo está investigando", disse Steve W. Ross, biólogo da Universidade da Carolina do Norte em Wilmington, especialista em corais submarinos. "Existe muita avaliação a ser feita." Alguns acreditam que estudos sobre o impacto do petróleo e solventes já deveriam ter sido feitos, dada a proliferação das plataformas.
"Alguns desses estudos foram propostos anos atrás, e os órgãos governamentais decidiram não financiá-los", disse Ross. "Estamos pagando por isso agora."
O vazamento da BP coincide com um período fértil de exploração oceânica profunda no golfo do México. O resultado foi uma série de descobertas, entre elas os prolíficos recifes em águas profundas, com cerca de 90 metros de comprimento. A identificação de novas espécies tornou-se comum.
Mesmo com a multiplicação das descobertas, pouco se fez para protegê-las. Uma declaração de impacto ambiental, feita pelo Serviço Federal de Administração de Minérios em 2007, concluiu que a perfuração de poços não representava risco sério para os recifes.
O documento de quase mil páginas menciona apenas de passagem o potencial do petróleo liberado em alta pressão de formar plumas, apesar de estudos mostrarem a probabilidade desse fato. Também deixou de explorar a aplicação de solventes em águas profundas.
Os recifes submarinos têm uma biologia própria, por isso sua sensibilidade aos poluentes é incerta. "Eu espero o melhor e temo o pior", disse Cordes.


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