São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Empresas tentam agradar corredores ‘descalços’


Mais pessoas aderem a sapatos minimalistas

Por AMY CORTESE

Todd Byers foi uma das mais de 20 mil pessoas que correram a maratona de San Francisco em julho passado. Vestindo shorts e camiseta, ele poderia ter desaparecido entre os demais corredores, se não fosse por uma diferença evidente: estava descalço.
Sua falta de sapatos atraiu olhares. “As pessoas acharam meio estranho”, disse Byers, 46, treinador de corrida e administrador de eventos na Califórnia, que já correu 75 maratonas desde 2004, sempre descalço.
Talvez elas não devessem se espantar. Pesquisas sugerem que os calçados modernos para corrida na verdade podem não melhorar muito o desempenho do atleta ou evitar ferimentos. Alguns corredores estão convencidos de que ficam melhor descalços, ou com sapatos que são pouco mais que luvas finas para os pés.
Muitos médicos especialistas discordam. O resultado é um debate entre um grupo peculiar de corredores descalços e pesquisadores contra os setores estabelecidos de sapatos de corrida e a medicina esportiva.
O embate também inspirou alguns calçados criativos. Surgiram novas empresas como Vibram, Feelmax e Terra Plana, com modelos com solas finas destinados a combinar os benefícios de correr descalço com uma camada de proteção. Esse avanço para o minimalismo poderá ter um impacto significativo não só nos tênis para corrida, mas também no amplo mercado de calçados esportivos, de US$ 17 bilhões.
As companhias do setor prosperaram vendendo um fluxo contínuo de modelos novos e aperfeiçoados. Em outubro, por exemplo, a japonesa Asics lançará a última versão de seu Gel-Kinsei, sapato de US$ 180 que se gaba de um “sistema de orientação de impacto” e uma unidade de calcanhar com amortecedor de choques. As gigantes da indústria defendem seus produtos dizendo que ajudam os atletas a ter um melhor desempenho e a proteger seus pés de torções —para não falar no concreto e em cacos de vidro.
Apesar de todos os avanços tecnológicos da indústria, porém, especialistas dizem que o índice de ferimentos entre os corredores é praticamente o mesmo desde a década de 1970, quando foi lançado o calçado de corrida moderno. Algumas lesões aumentaram, como as que envolvem o joelho e o tendão-de-aquiles.
“Não há muitas evidências de que os calçados de corrida fizeram as pessoas melhorar”, disse Daniel E. Lieberman, professor de biologia evolucionária humana na Universidade Harvard, que pesquisou o papel da corrida na evolução humana.
Um número crescente de pessoas hoje acredita em correr descalço ou o mais perto possível disso. Elas ainda são um minúsculo segmento da população. Mas métodos de treinamento populares, como o ChiRunning, assim como o livro best-seller “Born to Run”, de Christopher McDougall, aumentaram o interesse.
Seus defensores afirmam que os pés nus são capazes de correr longas distâncias e que envolvê-los em calçados modernos enfraquece os músculos e ligamentos e bloqueia a recepção de informações vitais sobre o terreno.
“O sapato possivelmente atrapalhou a evolução”, disse Galahad Clark, executivo-chefe da fabricante de calçados Terra Plana, baseada em Londres. “Eles são como pequenos caixões para os pés que os impediram de funcionar do modo como deveriam.”
Se você passar algum tempo em Concord, Massachusetts, poderá ver um homem de 51 anos correndo pelas ruas com um par de sapatos curiosos. É Tony Post, presidente e CEO da Vibram USA. E essas meias? Na verdade são “sapatos” com espaços individuais para os artelhos, chamados Vibram FiveFingers. Quando a Vibram, companhia italiana conhecida por suas solas de borracha resistentes, criou o FiveFingers, seus diretores imaginaram que ele agradaria a velejadores e iogues. Mas os calçados, que custam entre US$ 75 e US$ 85, viraram moda entre corredores.
As vendas de sapatos minimalistas, embora ainda pequenas, estão crescendo rapidamente. Clark, da Terra Plana, imagina que venderá 70 mil pares de sapatos minimalistas neste ano, o dobro do volume do ano passado.
Mas alguns especialistas advertem que essa abordagem pode ser perigosa. “Um número muito pequeno de pessoas são biomecanicamente perfeitas”, por isso a maioria precisa de algum tipo de suporte ou corretivo no calçado, disse Lewis G. Maharam, ortopedista e diretor médico do New York Road Runners, grupo que organiza a maratona de Nova York. “Para 95% ou mais das pessoas, correr descalças vai levá-las ao meu consultório”, disse.


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