São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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A próxima quebra

Mercado teme que outras nações sigam a Grécia

Simela Pantzartzi/European Pressphoto Agency
Polícia bloqueia manifestantes em Atenas; Grécia anunciou recentemente medidas para sanear sua economia, uma das mais precárias da Europa

Por NELSON D. SCHWARTZ
e GRAHAM BOWLEY

Será que a Espanha é a próxima Grécia? Ou a Itália? Ou Portugal?
Enquanto a Grécia promete outra vez controlar seu deficit, atenuando momentaneamente a ansiedade sobre suas finanças, agentes do mercado nos dois lados do Atlântico pesam os riscos -e potenciais recompensas- vinculados às dívidas de outros governos europeus. Embora os investidores tenham elogiado a decisão de Atenas de elevar impostos e cortar gastos num total de US$ 6,5 bilhões neste ano, analistas alertam para o fato de que tais medidas podem não bastar para evitar um resgate da Grécia ou para conter a crise que sacode a Europa e sua moeda única, o euro.
Na verdade, alguns bancos e fundos de hedge já começaram a voltar suas atenções para as outras nações endividadas, especialmente Portugal, Espanha, Itália e, em menor grau, a Irlanda.
O papel desses agentes se torna cada vez mais polêmico em Europa e EUA. A divisão antitruste do Departamento de Justiça norte-americano está examinando se pelo menos quatro fundos de hedge se mancomunaram para apostar contra o euro em fevereiro.
"Se os problemas da Grécia não forem tratados agora, há um risco de que o mercado irá focar nos próximos elos mais fracos da cadeia", disse Jim Caron, chefe global de estratégia de juros do Morgan Stanley.
A crise da dívida na Europa ameaça abalar o equilíbrio financeiro e político do continente. Com a Alemanha e a França surgindo como mais prováveis origens de um resgate, os líderes de Berlim e Paris podem acabar ditando a política fiscal de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha.
Os temores sobre o crescente peso da dívida em outros lugares da Europa devem voltar, segundo investidores e estrategistas. Isso é particularmente preocupante porque os países da Europa Ocidental têm de obter mais de US$ 500 bilhões neste ano para refinanciar dívidas e cobrir seu deficit orçamentário. O fato é que França e Alemanha também têm seus próprios problemas de orçamento e crescimento baixo -com deficit de respectivamente 7,5% e 6,3% do PIB.
O mais vulnerável depois da Grécia, segundo alguns analistas, é a Espanha, atolada numa profunda recessão. Diante de um desemprego de 20%, um rombo orçamentário de mais de 10% do PIB e uma economia que deve encolher 0,4% neste ano, Madri terá pouca margem de manobra se os investidores rejeitarem a esperada oferta de 85 bilhões de euros em novos títulos neste ano.
O vizinho Portugal também está vulnerável. Um grande deficit orçamentário e comercial, junto com a escassez de poupança interna, deixam Portugal dependente de investimentos estrangeiros.
Já na Irlanda, motivo de ansiedade no ano passado, as novas medidas de austeridade, inclusive um congelamento na contratação de pessoal pelo governo e uma redução nos salários do funcionalismo, colocaram o país em uma posição mais sólida, ao economizar 19 bilhões de euros para o governo neste ano.
O governo italiano é outro fortemente endividado -tem mais de US$ 2 trilhões em exposição total-, mas também está numa posição ligeiramente melhor do que Portugal e Espanha, porque sua economia deve crescer 0,9% neste ano e 1% no ano que vem.
Segundo Kenneth Heinz, da Hedge Fund Research, os grandes fundos de hedge estão agora avaliando a resposta de outros países europeus no sentido de ampliar a ajuda à Grécia, antes de sondar as fraquezas e oportunidades em outros países.
Fundos de hedge, bancos e outras instituições seguem apostando em uma queda do euro e da libra. "A história grega está colocando uma pressão pela queda do euro", disse Derek Sammann, diretor-gerente do CME (Chicago Mercantile Exchange). Segundo dados do CME, os fundos de hedge há uma década não se mostravam tão propensos a se desfazer de euros, afirmou Mary Ann Bartels, do Bank of America Merrill Lynch.
"Eles já estão vendidos há um tempo, mas nas últimas duas semanas realmente pressionaram [o euro]", disse ela.


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