São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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México tenta reprimir música que glorifica tráfico

Por JOSH KUN

LOS ANGELES - Em novembro, um usuário anônimo colocou no YouTube uma nova música da banda Los Tucanes de Tijuana, uma das mais populares do México. A canção "El Más Bravo de los Bravos" narra as desventuras de Raydel Rosalío López Uriarte, "El Muletas", suposto pistoleiro e narcotraficante que é um dos líderes do cartel de Tijuana, famoso por sua violência e por suas decapitações.
"Um homem muito perigoso, que não teme nem o diabo [...], sequestra, executa e cobra", cantam os Tucanes, que já haviam homenageado López em outro "narcocorrido", gênero musical mexicano-polêmico, tradicional e imensamente popular- que, na sua atual manifestação, costuma transformar notícias sobre o narcotráfico e a violência ligada às drogas em baladas saltitantes, acompanhadas de baixo e metais.
A canção "El Muletas", de 2008, detalhava uma frustrada tentativa de prisão, episódio em que López escapou de mais de 200 agentes federais em um conhecido restaurante de Tijuana. (López acabou sendo detido no mês passado.)
As odes dos Tucanes a López e a outros chefões da droga levaram o secretário de Segurança Pública de Tijuana, Julián Leyzaola, a ordenar que o grupo fosse investigado pela Procuradoria-Geral mexicana por supostas conexões com os cartéis de traficantes. Ele também proibiu um show dos Tucanes em Tijuana, para o qual mais de 10 mil ingressos já haviam sido vendidos.
"Sempre nos perguntam com qual cartel estamos, e sempre dizemos que estamos com o cartel do povo", disse Mario Quintero, vocalista e compositor da banda. "Se estivéssemos conectados a um cartel, seríamos os únicos mafiosos da história a durar mais do que três mandatos presidenciais."
A vigilância sobre a música dos Tucanes é parte de um esforço mais amplo do governo mexicano para reprimir os "narcocorridos". Essas músicas são proibidas nas rádios mexicanas, e em janeiro o partido que governa o país apresentou um projeto de lei que estabelece penas de até três anos de prisão para artistas que glorifiquem narcotraficantes em suas canções ou filmes.
"Isso é infantil", respondeu Quintero. "Proibir a música e cancelar shows não é a resposta. Se o governo dedicasse mais tempo à educação e à criação de empregos, as coisas estariam melhores."
Em 2009, a banda lançou dois novos álbuns, "Propiedad Privada", totalmente dedicado aos "narcocorridos", e "Soy Todo Suyo", que foi indicado ao Grammy de melhor disco "norteño", em 2009, e alterna canções românticas com faixas dançantes, como "El Chiqui Baby". É uma estratégia de dupla identidade de marketing que os Tucanes seguem desde que surgiram, em 1987, o que lhes ajudou a vender mais de 13 milhões de discos no mundo todo ao longo da carreira.
Embora seja seu material mais "seguro" o que recebe as bênçãos do Grammy, Quintero insistiu em que são os álbuns de "narcocorrido" que mantêm os Tucanes na ativa, gerando cerca de 80% de todas as vendas da banda.
Na década de 1990, Quintero escreveu "No Solo de Traficante", um raro "narcocorrido" sobre um homem que escolhe não ganhar a vida vendendo drogas. Em 2002, foi autor de "Qué Tristeza", uma das poucas canções do gênero que fala da destruição pelo uso de drogas.
Nenhuma das duas foi muito popular. "Tentamos fazer algumas canções sobre drogas e violência a partir de uma perspectiva mais crítica", disse ele. "Ninguém as pede. Então, não as cantamos -músicas para a paz, músicas sobre acabar com a violência. Não é isso que as pessoas querem escutar."


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