São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

O desafio profundo para poucos e ricos

Por WILLIAM J. BROAD
Uma nova geração de ousados aventureiros está tentando mergulhar a 11 km de profundidade no mar, até o fundo de um abismo rochoso no Pacífico Oeste que é envolto em escuridão perpétua. O Challenger Deep é o ponto mais profundo do oceano, com temperatura perto de zero.
Os exploradores podem realizar seus sonhos porque são extremamente ricos. Entre eles estão o diretor de cinema James Cameron, o magnata das companhias aéreas Richard Branson e o guru da internet Eric E. Schmidt.
Cada um deles está construindo ou projetando minissubmarinos que deverão levá-los, bem como seus amigos, cientistas e até turistas, para as profundezas. Os veículos, destinados a transportar de uma a três pessoas, custarão entre US$ 7 milhões e US$ 40 milhões.
"O último grande desafio para os seres humanos", disse Branson, fundador da Virgin Atlantic e da Virgin Galactic, "é explorar as profundidades oceânicas."
O primeiro mergulho está marcado para o final deste ano. A aventura está acontecendo agora em parte devido aos progressos em materiais, baterias e eletrônica, que estão diminuindo os custos e aumentando as capacidades dos submersíveis.
O mais difícil de construir são os compartimentos para a tripulação, cujas paredes devem ser fabricadas com precisão para suportar toneladas de pressão esmagadora. Os projetistas não estão usando apenas o aço tradicional, mas materiais como vidro resistente à pressão.
Os seres humanos só puseram os olhos no Challenger Deep uma vez, meio século atrás, em uma nave da marinha dos Estados Unidos. Uma janela rachou na descida. O pouso no fundo levantou tanta lama que os dois mergulhadores pouco puderam ver e não tiraram fotos. Eles ficaram lá apenas 20 minutos.
Incursões a profundidades menores se multiplicaram ao longo dos anos. Desde a descoberta do Titanic no fundo do Atlântico Norte em 1985, centenas de pessoas (incluindo Cameron) visitaram o naufrágio mais famoso do mundo. Ele está a mais de 3 km de profundidade.
O Challenger Deep e recessos semelhantes fazem parte de um vasto sistema de trincheiras no fundo do mar que cortam todo o globo. As mais profundas se encontram no Pacífico Oeste.
Biólogos já vislumbraram seus habitantes baixando dragas. Retiraram milhares de vermes, crustáceos e pepinos do mar de aspecto bizarro. Robôs submarinos filmaram cardumes de enguias e peixes fantasmagóricos, com caudas longas e sinuosas.
No início de abril, Branson revelou seu submersível. Seu artefato único, com cerca de 5,5 metros de comprimento, parece um avião com asas curtas e uma cabine. A curvatura das asas é projetada para impelir o veículo para baixo enquanto ele acelera pela água, e não para cima como um avião.
O artefato alado e sua nave-mãe custaram cerca de US$ 17 milhões. O mergulho do submersível está marcado para este ano, e seu piloto é um colega de Branson.
No final de abril, outra equipe foi revelada. A Triton Submarines, baseada em Vero Beach, na Flórida, fabrica pequenos submersíveis com esferas de acrílico que transportam dois tripulantes a 1 km de profundidade ou mais. A empresa anunciou que está pronta para construir um submersível que levará três pessoas ao Challenger Deep. A esfera de tripulação do veículo -com 2,3 m de diâmetro- seria feita totalmente de vidro e se abriria como uma concha para receber os passageiros.
O vidro pode parecer frágil, mas, segundo L. Bruce Jones, o executivo-chefe da empresa, conforme as pressões aumentam, "ele fica mais forte".
Cada artefato custaria US$ 15 milhões. Os investidores poderão cobrar US$ 250 mil por pessoa para as viagens ao Challenger Deep. Jones disse que o aparelho desceria rapidamente, percorrendo os 11 km em cerca de duas horas. Isso deixaria várias horas livres para explorar o fundo.
"Queremos um produto que possa ser usado diversas vezes sem dificuldade -que seja elegante, seguro e competitivo", disse Jones.
James Cameron, diretor de grandes sucessos de Hollywood, manteve um perfil discreto e concentrou seus esforços na Austrália. Cinco anos atrás, ele formou uma equipe que vem construindo um submersível nas linhas tradicionais, mas menor. Ele disse que sua esfera de aço para a tripulação tem pouco mais de 1 m de largura e acomodaria apenas uma pessoa.
A equipe está construindo câmeras para filmar em três dimensões, disse Cameron. Apesar de relatos de que o veículo poderia participar de uma sequência oceânica de Avatar, ele insistiu que o artefato "não tem nada a ver com minha vida na ficção", mas um ou dois documentários poderão ser produzidos.
Ele disse que o aparelho custou entre US$ 7 milhões e US$ 8 milhões. Mergulhos de teste estão marcados para o início do próximo ano. No verão de 2012, acrescentou Cameron, ele e sua equipe mergulharão no Pacífico Oeste de 12 a 15 vezes. O objetivo é explorar não apenas o Challenger Deep, como também as trincheiras de Tonga e Kermadec, que ficam ao norte da Nova Zelândia.
Talvez o menos visível dos empresários seja Schmidt, o presidente-executivo do Google -e fundador do Instituto Oceânico Schmidt e da Fundação de Pesquisa de Navios Schmidt. Ele financiou o desenvolvimento de um submersível avançado, projetado pela Deep Ocean Exploration and Research, uma empresa na ilha Alameda, na baía de San Francisco. "Novas tecnologias são necessárias para explorar, mapear, medir e registrar a vida marinha e oceânica", ele disse.
O artefato, chamado Deepsearch, é grande e parece um peixe ou um torpedo. Levando até três pessoas, ele mergulha a 11 km em pouco mais de uma hora. Sua esfera da tripulação, como a do modelo Triton, será feita de vidro para melhor observação.
Um submersível que incorporasse "todos os conceitos de ponta" poderia custar US$ 40 milhões, diz a companhia. Ela pretende construir alguns. Os artefatos deverão ter grandes painéis com luzes para iluminar o fundo do mar, que é completamente escuro.


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