São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Caos substitui estabilidade na Cisjordânia

Por ISABEL KERSHNER

NABLUS, Cisjordânia - Um casamento coletivo que ocorreu aqui há pouco tempo, em uma noite de clima agradável, foi o último passo em direção à reformulação desta cidade palestina de um foco de caos e violência em um modelo de estabilidade e comércio na Cisjordânia.
Os 47 casais eram desconhecidos pela maioria dos 10 mil palestinos reunidos no anfiteatro do parque municipal.
Mas o evento, um dos mais exuberantes que ocorreram aqui nos últimos anos, foi um assunto alegre, reunindo palestinos de Nablus e das aldeias e campos de refugiados ao redor.
"Somos uma população dispersa", disse Hassan Assayes, 53, um escultor e o mais velho dos noivos. "Isto é um sinal de união."
O casamento comunitário foi pago pela Autoridade Palestina e realizado com a bênção de seu presidente, Mahmoud Abbas.
Mas a cerimônia também refletiu algo do espírito de empreendedorismo que hoje desperta em Nablus, uma cidade de cerca de 150 mil habitantes que já foi considerada o centro comercial da Cisjordânia.
O casamento foi ideia de Muhannad Rabi, 37, diretor de uma empresa imobiliária e de investimentos da cidade, o quarto evento público que organizou.
Esforçando-se para se fazer ouvir acima da cantora que gritava sucessos árabes de casamento, Rabi disse que, há um ano, começou com um festival em que os moradores assaram o que foi considerado o maior "knafeh" do mundo -um doce de massa local. Depois foi uma maratona, seguida de um jogo de futebol.
Rabi disse que quer "transmitir ao mundo a mensagem de que nós, em Nablus e na Palestina em geral, podemos viver como seres humanos, gozar a vida e alcançar nossos objetivos políticos".
Durante anos depois do surto da Segunda Intifada, em 2000, Nablus foi governada por milícias rivais e bandos criminosos.
O Hamas ganhou as eleições municipais na cidade e eleições parlamentares em toda a Cisjordânia e Gaza em 2006.
Mas, em junho de 2007, depois que o grupo islâmico se apoderou de Gaza, milicianos associados ao partido Fatah, rival de Abbas, invadiram Nablus, saqueando e queimando escritórios e instituições ligados ao Hamas.
Mais tarde naquele ano, a Autoridade Palestina fez de Nablus o piloto para seu programa de lei e ordem, mobilizando para a cidade centenas de policiais palestinos recém-treinados.
As autoridades palestinas, na ocasião, disseram que queriam enfrentar primeiro a "cabeça da cobra".
A cidade é aberta a visitantes de toda a Cisjordânia, assim como para os árabes de Israel. Nas ruas, carros novos indicam uma crescente prosperidade.
O clima fervilhante é personificado por pessoas como Atallah e Khamis al-Sairafi, 49, gêmeos idênticos filhos de refugiados de Jaffa (hoje Israel) que cresceram no campo de refugiados Askar, na periferia de Nablus.
Eles começaram no negócio de ferro-velho.
Mas, antes da Segunda Intifada, compraram um avião de passageiros Boeing 707 e o estacionaram em um parque de diversões que tinham construído a leste da cidade. Pretendem transformá-lo em um restaurante.
Depois que a violência irrompeu, o parque de diversões tornou-se um acampamento improvisado do Exército de Israel.
Hoje, os irmãos Sairafi dizem que estão negociando com a Prefeitura de Nablus para mudar o avião para um novo parque da cidade, no alto do monte Ebal.
Eles imaginam mesas internas para mais de cem pessoas e cantores se apresentando nas asas.
Enquanto isso, abriram uma usina de reciclagem de lixo que, segundo dizem, é "a primeira da Palestina".


Texto Anterior: Trabalho chato distribuído no mundo da web
Próximo Texto: Nossa forma de comer
Onde Clinton come, a sorte impera

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.